Um leitor anônimo das sessões do Clube de Idéias teceu o seguinte comentário sobre fala do professor Figueiredo (sessão de Abertura):
“massificação
s. f. 1. Ato ou efeito de massificar. 2. Característica das sociedades desenvolvidas, para as quais o nível de vida tende a assumir valores padronizados
Então seria impossível declarar, assim como Alberto Caeiro busca negar a subjetividade das coisas,que logo a massificação intelectual é a negação da própria massificação...um pensamento em comum nos une...logo nos massificamos.”
Para Figueiredo o comentário é falacioso. Massificação (v.t.d.) é o conceito que serviu para ele, expressar a sua descrença em levar as discussões para a sociedade, porque o povo massificado perdeu sua habilidade de pensar, de ser crítico. Para assegurar a nossa independência e a nossa sanidade, nos refugiamos no Clube, vacinados da massificação.
A arte existe porque a vida não basta dessa forma enveredamos para o mundo da arte erótica, afinal para nós sexo não é secretum nem pudendum. Foi o pharmakon que encontramos para tornar a semana mais suportável: meditar sobre literatura erótica.
O professor Veloso leu poema de Dioscórides:
“Estendida sobre o leito, Dóris, a de róseas nádegas,
me fez imortal na sua carne em flor.
Tendo-me preso entre as pernas magníficas, completou
com firmeza o longo percurso de Chipre,
a olhar-me com olhos langorosos:eles tremiam
e cintilavam como folhas ao vento,
até que , vertida a branca seiva de nós dois, os membros
de Dóris por sua vez enlanguesceram.”
Eu me lembrei de uma advinha medieval francesa que diz:
“P. Vamos dormir que já é hora,
fazer o que ninguém ignora:
pôr peludo contra veludo,
marmota bem dentro da grota.
R. São as pálpebras que se fecham quando se vai dormir.”
Machado recita Aretino:
“Hortênsia quis dar gosto ao seu amante
e o lugar mais mimoso do seu corpo
franqueou-lhe, mas o fez prometer antes
que do seu grande rabo só um pouco
ali poria. E eis que ele, não obstante
a promessa, no furor do gozo,
põe-lhe tudo no rabo. Ultrum Hortência
poderá acusá-lo de violência?”
Chegou a vez de Teixeira recitar evocando Jean de La Fontaine:
“Amar, foder: uma união
de prazeres que não separo.
A volúpia e os desejos são
o que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
juntam-se em doces efusões
que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisto, oh minha amada:
amar sem foder é bem pouco,
foder sem amar não é nada.”
Figueiredo foi buscar inspiração na Alemanha do século XVIII, recitando Wieland:
“O jardinzinho bem fechado
todo mês de rosas ornado
onde o jardineiro se enfia
e cuida e rega noite e dia,
louvado seja !
O bom mineiro tão robusto
que em negro buraco, sem susto,
penetra e fura sem cansaço,
até acabar-se, ficar lasso,
louvado seja !
Encerrando a nossa sessão semanal, o professor Figueiredo recitou Régnier:
“A língua ontem me atraiçoou.
Conversando com Antonieta,
disse eu ‘Que foda!’ e ela, faceta,
fez cara de quem não gostou.
Muito embora comprometido,
Vi, pelo rubor do seu rosto,
que o que eu disse dava-lhe gosto,
mas noutro lugar, não no ouvido.”
Jáder Marcos Paes Correto da Rocha
3 comentários:
Pornógrafo!
Lusófano!
Sim, provavelmente por isso e
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