Ricochetes de coriscos faiscantes.
Esses teus olhos azuis.
Bolas de gude a desnudar o impacto dos vidros em guerra.
Enluarada noite, espuma branca na areia.
Interlúdio entre um medo e uma caverna.
As lanternas sempre se perdem.
As velas e os fósforos são tragados pelo obscuro.
Os dentes se perdem.
De nosso mesmo é só esse ardor aziago.
O olhar baço.
E as gengivas ostensivas.
Esses teus olhos azuis me levaram qual cometa.
Em tua loira cabeleira de perfumes
Na tua axila que destrona campos de rosas
Respiro
E é como se o ar estufasse com lufadas de rojão
Meu peito comprimido de saco de pão amassado.
A melhor coisa que fiz foi esfacelar meu coração em cinzas brilhantes de balão galinha
Só pelo espetáculo desses olhos azuis arregalados
Nos Cuecas Rosas ele é o astro punk brega Axl Magal. No blog Nada Direito é só Rodrigo mesmo, um poeta que engavetou por tempo demais seus versos.
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domingo, 29 de novembro de 2009
sábado, 10 de outubro de 2009
Do amor que dedicamos aos bichos - Cidadão das Nuvens
Do amor que dedicamos aos bichos
- por serem crianças e loucos e
não saberem de nada (e,
com efeito: detestamos os sábios ) -
aproveita-se meu gato e, na calada da noite,
emite a senha para que eu lhe encha o prato.
O faço. E
ao abrir a janela para
que a fumaça disperse
o felino escapa de encontro ao cio.
Nesse jogo de cartas marcadas,
fumarei (ainda que não suporte
o cheiro da fumaça)
quando o larápio quiser, pois
do amor que dedicamos aos bichos
- por serem crianças e loucos -
nasce o desejo: da idosa abandonada
viver um dia mais;
das crianças doentes sorrirem e resistirem ao Câncer;
de
o ambulante que vende cigarros
falsificados,
na calçada paralela,
falar de futebol comigo,
que nem gosto de futebol.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
=>Faça como como o Renato e mande suas poesias para clube.ideias@gmail.com
- por serem crianças e loucos e
não saberem de nada (e,
com efeito: detestamos os sábios ) -
aproveita-se meu gato e, na calada da noite,
emite a senha para que eu lhe encha o prato.
O faço. E
ao abrir a janela para
que a fumaça disperse
o felino escapa de encontro ao cio.
Nesse jogo de cartas marcadas,
fumarei (ainda que não suporte
o cheiro da fumaça)
quando o larápio quiser, pois
do amor que dedicamos aos bichos
- por serem crianças e loucos -
nasce o desejo: da idosa abandonada
viver um dia mais;
das crianças doentes sorrirem e resistirem ao Câncer;
de
o ambulante que vende cigarros
falsificados,
na calçada paralela,
falar de futebol comigo,
que nem gosto de futebol.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
=>Faça como como o Renato e mande suas poesias para clube.ideias@gmail.com
domingo, 4 de outubro de 2009
Parto Normal - Ana Alice
Fazer do outro sua morada
sem levar de si só a média
mudar-se com todas as arestas
Despreocupar-se com as frestas
Encontrar-se todo na jornada
Desculpar-se de mágoa e destino
Desfazer de si o tom todo trágico
Desmontar problemas como cubos mágicos
Parir a vida como quem pare um menino
Sem curso, enfermeira ou mesmo hospital;
Dar a luz a um amor de parto normal.
Parteira de poesias e ritmos - que tira de sua bateria, Ana Alice evita o estresse com doses de zen drugs e toca nas bandas Milhouse e Liga das Senhoras Católicas. Leia mais textos dela no brog Credencial Tosca.
sem levar de si só a média
mudar-se com todas as arestas
Despreocupar-se com as frestas
Encontrar-se todo na jornada
Desculpar-se de mágoa e destino
Desfazer de si o tom todo trágico
Desmontar problemas como cubos mágicos
Parir a vida como quem pare um menino
Sem curso, enfermeira ou mesmo hospital;
Dar a luz a um amor de parto normal.
Parteira de poesias e ritmos - que tira de sua bateria, Ana Alice evita o estresse com doses de zen drugs e toca nas bandas Milhouse e Liga das Senhoras Católicas. Leia mais textos dela no brog Credencial Tosca.
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sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Poesia da minha irmã - Frico Giacomo
-Mais poesias
Uma parceria e homenagem com Marina Di Giacomo
Minha irmã pensa que
É um risco abstrato
Numa natureza morta
Num dia em que chovem
Lírios e metais pesados
Acho esse pensamento equivocado
Nossa família parece toda
Uma natureza coloridamente abstrata
Rodeada de uma sociedade morta
Que ignora
Mas lá fora
A Esperança chove
E seria bom que a gente
Se deixa-se banhar um pouco
E ser - então
borrão
-Drogas
Frico já foi punk, anarquista, jornalista, baixista, poeteiro, ator, filho, namorado, corno, cafajeste, culpado e inocente. Mas nunca deixou de escrever e sonhar. Tudo isso no blog Punk Brega
Uma parceria e homenagem com Marina Di Giacomo
Minha irmã pensa que
É um risco abstrato
Numa natureza morta
Num dia em que chovem
Lírios e metais pesados
Acho esse pensamento equivocado
Nossa família parece toda
Uma natureza coloridamente abstrata
Rodeada de uma sociedade morta
Que ignora
Mas lá fora
A Esperança chove
E seria bom que a gente
Se deixa-se banhar um pouco
E ser - então
borrão
-Drogas
Frico já foi punk, anarquista, jornalista, baixista, poeteiro, ator, filho, namorado, corno, cafajeste, culpado e inocente. Mas nunca deixou de escrever e sonhar. Tudo isso no blog Punk Brega
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Seus cabelos vão ficando brancos - Frico
Da série "Auto-Retratos" do Clube de Ideias:
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Nasci numa época de esperança, ano das Diretas Já, ano do caos de George Orwell
Ditadura militar desmoronava como o muro
Às vezes queria voltar pro útero, que parecia ser meu verdadeiro lar
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Migrei para o interior, onde rolei na relva verde e me acostumei com o luar estrelado do
Meu pai lia muito todos aqueles nomes esquisitos como Freud, Nietzsche, Marx e Henry Miller
Não sabia se Eça de Queirós era homem ou mulher. Que pessoa é Eça?
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Meu pai lutava judô e minha mãe pintava quadros psicodélicos
Ela era bonita e nos colocava para desenhar ao som de Pink Floyd
Eu achava Andoniran Baborsa engraçado e ainda acho, eu tinha um cachorro vira-latas e
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
O anarquismo vinha depois do comunismo, que vinha depois do socialismo, que vinha
A copa de 1994 é nossa, o Brasil é tetra e eu sou muito perna de pau.
Sempre fui o último a ser escolhido na Educação Física.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Estudei em escola pública dos 5 até os 9 anos
Odiei a escola de freiras onde meus pais davam aula.
Eu era bolsista, ateu e não sabia jogar bola. Era estranho e diferente.
Meus pais eram estranhos e diferentes e ninguém no interior entendia a gente.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Eu passei recreios inteiros sozinho lendo Gulliver
Eu esperava a entrada para aula, sozinho, lendo Graciliano Ramos
Eu me divertia sozinho lendo gibis do X-Men.
E eu só tinha 10 anos.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Mutações em minha carne: estiquei, emagreci, desafinei. Pelos desabrocharam
Tudo antes dos outros.
Uma menina disse que meus olhos eram bonitos. Mas só os olhos.
O irmão da Sabrina Sato disse que eu tinha cara de rato.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Me apaixonei pela primeira vez com 13 anos. De verdade. Pela menina que todo mundo se
Eu gostava das bundas. Bastante.
Escrevi poesias pra ela.
Versos de amor não eram meu forte...
Escrevia porque a vida me angustiava e, se fosse feliz, não escrevia mais nada.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Pilhas poeirentas de quadrinhos de super-heróis, RPG e... A INTERNET.
Tinha mulheres com bundas grandes lá e elas gostavam das minhas poesias.
Me apaixonei pelo rock 'n' roll em 1996. Perdidamente.
Criei um fanzine em 1997 com um amigo e meu irmão.
Em 1998, comecei a tocar violão.
****
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Minhas calças se rasgaram, os fios de cabelo se espetaram e um brinco se alojou em minha
As pessoas tinham medo de mim, e eu gostava. Fiz outro furo na orelha e comprei um bracelete.
Toquei em palcos imundos dos subúrbios, em praças e em centros culturais.
Pulei, gritei e tive convulsões públicas para animar platéias de meia dúzia de pessoas.
Tive bandas, zines, programas na rádio e meu primeiro romance. Durou 3 meses.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Aos poucos entendendo as mulheres.
Adeus mãe gigante, grande, acolhedora, tribal, arquetípica, freudiana.
***
Crescer dói. Descobri que morava na periferia. Um amigo me disse.
"FrIco G mora num lugar perigoso".
Tinha pessoas pedalando de volta para casa às 18h, velhos conversando na calçada
Um vizinho era lixeiro, mas depois foi preso. Polícia passa. Boca de fumo do bairro. Mas nunca
Um cara da classe mata alguém. Outro internado em uma rehab. Menino assalta venda
Queria um lar que não fosse mais um útero.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Pais rígidos. Castigo.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Assisti a queda das Torres Gêmeas na escola e as pessoas comemoraram.
Minha tia americana ligou chorando pra minha mãe.
Me arrependi
Senti o grande império WASP ruindo. Como um rato que rói a roupa do rei de Roma.
***
E, pesando 59 kg, eis o primeiro lugar em uma faculdade pública de jornalismo.
Comecei a beber. Comecei a viver.
Aos 18 anos, vida ganhava cores e cheiros.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Voei até os EUA e freqüentei convenções anarquistas e shows de hardcore.
Tive medo de avião. Tive medo de morrer. E tive medo da vida.
Conheci pessoas maravilhosas, que amei como irmãos.
Conheci mulheres maravilhosas, que amei ou não.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Participei.
De protestos, trupes de teatro, bandas de rock, festas, gangues de discussão de filosofia, programas de tv e filmes amadores.
Vivi 40 anos em 4
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
E eu ainda acredito. Você não?
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Dormi com as mais feias e as mais bonitas. E as pintei lindas.
Tive a mulher que achei que não teria e a perdi.
Chorei muito, mas fui mais feliz do que triste.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Pânico. Mãos formigando, taquicardia. Achei que ia morrer.
Me arrastei por seis meses em direção a vida de adulto.
Cortei o cabelo, arrumei um emprego, entrei no túnel do metrô imergindo em depressão
A cidade de São Paulo era cinza e fedia como merda, como morte, como dor.
No Butantã mendigos alados e ratos dilacerados faziam coro com as putas tristes, os travecos
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Mas ganhei dinheiro, vendi minhas letras e ideias por um preço razoável
Viajei, então, e pude ver o mar. Foi lindo. Toda aquela imensidão azul. Penetrou em mim.
No começo foi difícil, mas aprendi que fidelidade acontece por vontade, não obrigação.
Acalmei meus demônios internos em sessões de terapia, aulas de Yoga e noites com minha
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Expulsei Édipo de Tebas aos bicudos no cu.
Doeu
Aceitei que podia ser feliz e ter um pouco de dinheiro
Mas nunca desisti.
Continuo sendo uma fábrica de sonhos e ilusões.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Assisti ao Pânico em SP tocado pelos ataques do PCC
Vivi os tempos da Gripe Suína, o medo de uma epidemia, a crise financeira de 2009.
Errei feio, pedi perdão, me senti culpado e chorei
E escrevi, e li, e gozei, e amei, e bebi, e fumei, e dancei, e abracei, e sonhei
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Sigo a sina
Estou há mais de dez anos tentando escrever poesia
Os cabelos estão ficando brancos, mas as palavras insistem em soar vazias.
Frico escreveu esse punhado de versos ai em cima. Ele andou lendo muito Walt Whitman, Ginsberg e Ferlighetti e por isso fez um poema tão grande. Leia mais trabalhos dele aqui. Ah, ele também tem um blog, o Punk Brega.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Nasci numa época de esperança, ano das Diretas Já, ano do caos de George Orwell
Ditadura militar desmoronava como o muro
que ruiu no ano em que um operário quase virou presidente da República
Não lembro muito do útero, só que gostava muito de lá. Sentia-me protegidoÀs vezes queria voltar pro útero, que parecia ser meu verdadeiro lar
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Migrei para o interior, onde rolei na relva verde e me acostumei com o luar estrelado do
sertão
Li meu primeiro livro com 6 anos e não parei nuncaMeu pai lia muito todos aqueles nomes esquisitos como Freud, Nietzsche, Marx e Henry Miller
Não sabia se Eça de Queirós era homem ou mulher. Que pessoa é Eça?
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Meu pai lutava judô e minha mãe pintava quadros psicodélicos
Ela era bonita e nos colocava para desenhar ao som de Pink Floyd
Eu achava Andoniran Baborsa engraçado e ainda acho, eu tinha um cachorro vira-latas e
nosso bairro era um pouco feio
Eu não podia brincar na rua como os vizinhos porque era perigoso. Ser atropelado. Um cigano.Um tarado.
Meus vizinhos pareciam com os pobres que eu via na televisãoSeus cabelos vão ficando brancos, Frico
O anarquismo vinha depois do comunismo, que vinha depois do socialismo, que vinha
depois da derrota do capitalismo.
Mas os russos entregaram os pontos de vez em 1991. Assisti as Olimpíadas de 1992 sem a URSSA copa de 1994 é nossa, o Brasil é tetra e eu sou muito perna de pau.
Sempre fui o último a ser escolhido na Educação Física.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Estudei em escola pública dos 5 até os 9 anos
Odiei a escola de freiras onde meus pais davam aula.
Eu era bolsista, ateu e não sabia jogar bola. Era estranho e diferente.
Meus pais eram estranhos e diferentes e ninguém no interior entendia a gente.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Eu passei recreios inteiros sozinho lendo Gulliver
Eu esperava a entrada para aula, sozinho, lendo Graciliano Ramos
Eu me divertia sozinho lendo gibis do X-Men.
E eu só tinha 10 anos.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Mutações em minha carne: estiquei, emagreci, desafinei. Pelos desabrocharam
Tudo antes dos outros.
Uma menina disse que meus olhos eram bonitos. Mas só os olhos.
O irmão da Sabrina Sato disse que eu tinha cara de rato.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Me apaixonei pela primeira vez com 13 anos. De verdade. Pela menina que todo mundo se
apaixonava.
Ela era loira e tinha uma bunda redonda, grande e bonita. A maior da sala.Eu gostava das bundas. Bastante.
Escrevi poesias pra ela.
Versos de amor não eram meu forte...
Escrevia porque a vida me angustiava e, se fosse feliz, não escrevia mais nada.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Pilhas poeirentas de quadrinhos de super-heróis, RPG e... A INTERNET.
Tinha mulheres com bundas grandes lá e elas gostavam das minhas poesias.
Me apaixonei pelo rock 'n' roll em 1996. Perdidamente.
Criei um fanzine em 1997 com um amigo e meu irmão.
Em 1998, comecei a tocar violão.
****
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Minhas calças se rasgaram, os fios de cabelo se espetaram e um brinco se alojou em minha
orelha esquerda.
Eu era punk, como aqueles que eu via na tv. Eu era alguém e tinha um grupo.As pessoas tinham medo de mim, e eu gostava. Fiz outro furo na orelha e comprei um bracelete.
Toquei em palcos imundos dos subúrbios, em praças e em centros culturais.
Pulei, gritei e tive convulsões públicas para animar platéias de meia dúzia de pessoas.
Tive bandas, zines, programas na rádio e meu primeiro romance. Durou 3 meses.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Aos poucos entendendo as mulheres.
Adeus mãe gigante, grande, acolhedora, tribal, arquetípica, freudiana.
***
Crescer dói. Descobri que morava na periferia. Um amigo me disse.
"FrIco G mora num lugar perigoso".
Tinha pessoas pedalando de volta para casa às 18h, velhos conversando na calçada
Um vizinho era lixeiro, mas depois foi preso. Polícia passa. Boca de fumo do bairro. Mas nunca
prende ninguém.
Conheci garotos que já tinham vivido mais que homens.Um cara da classe mata alguém. Outro internado em uma rehab. Menino assalta venda
com uma arma.
Pobre demais pra ser branco e claro demais pra ser um negro.Queria um lar que não fosse mais um útero.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Pais rígidos. Castigo.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Assisti a queda das Torres Gêmeas na escola e as pessoas comemoraram.
Minha tia americana ligou chorando pra minha mãe.
Me arrependi
Senti o grande império WASP ruindo. Como um rato que rói a roupa do rei de Roma.
***
E, pesando 59 kg, eis o primeiro lugar em uma faculdade pública de jornalismo.
Comecei a beber. Comecei a viver.
Aos 18 anos, vida ganhava cores e cheiros.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Voei até os EUA e freqüentei convenções anarquistas e shows de hardcore.
Tive medo de avião. Tive medo de morrer. E tive medo da vida.
Conheci pessoas maravilhosas, que amei como irmãos.
Conheci mulheres maravilhosas, que amei ou não.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Participei.
De protestos, trupes de teatro, bandas de rock, festas, gangues de discussão de filosofia, programas de tv e filmes amadores.
Vivi 40 anos em 4
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Acreditei no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, onde conversei com pessoas de todos os continentes que acreditavam
Que um outro mundo era possívelE eu ainda acredito. Você não?
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Dormi com as mais feias e as mais bonitas. E as pintei lindas.
Tive a mulher que achei que não teria e a perdi.
Chorei muito, mas fui mais feliz do que triste.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Pânico. Mãos formigando, taquicardia. Achei que ia morrer.
Me arrastei por seis meses em direção a vida de adulto.
Cortei o cabelo, arrumei um emprego, entrei no túnel do metrô imergindo em depressão
A cidade de São Paulo era cinza e fedia como merda, como morte, como dor.
No Butantã mendigos alados e ratos dilacerados faziam coro com as putas tristes, os travecos
de peruca
Os vendedores ambulantes, os botecos imundos, os porteiros nordestinos, os malucos de rua,as crianças ranhentas.
Eu voltara à miséria, comendo um prato de cinco reais com tomate, cebola, arroz, feijão e um frango horrível.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Mas ganhei dinheiro, vendi minhas letras e ideias por um preço razoável
Viajei, então, e pude ver o mar. Foi lindo. Toda aquela imensidão azul. Penetrou em mim.
Lágrimas lubrificaram o âmago.
Achei uma mulher com asas que voou comigo e tive que abandonar as outras por justa causa.No começo foi difícil, mas aprendi que fidelidade acontece por vontade, não obrigação.
Acalmei meus demônios internos em sessões de terapia, aulas de Yoga e noites com minha
preta
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Expulsei Édipo de Tebas aos bicudos no cu.
Doeu
Aceitei que podia ser feliz e ter um pouco de dinheiro
Mas nunca desisti.
Continuo sendo uma fábrica de sonhos e ilusões.
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Assisti ao Pânico em SP tocado pelos ataques do PCC
Vivi os tempos da Gripe Suína, o medo de uma epidemia, a crise financeira de 2009.
Errei feio, pedi perdão, me senti culpado e chorei
E escrevi, e li, e gozei, e amei, e bebi, e fumei, e dancei, e abracei, e sonhei
Seus cabelos vão ficando brancos, Frico
Sigo a sina
Estou há mais de dez anos tentando escrever poesia
Os cabelos estão ficando brancos, mas as palavras insistem em soar vazias.
Frico escreveu esse punhado de versos ai em cima. Ele andou lendo muito Walt Whitman, Ginsberg e Ferlighetti e por isso fez um poema tão grande. Leia mais trabalhos dele aqui. Ah, ele também tem um blog, o Punk Brega.
domingo, 12 de julho de 2009
Indigente é
Da série "Auto-retratos" do Clube de Ideias
Uma parafernalha sucateada de átomos, genes, hormônios, ideias e emoções bizarras, dentre outras bugigangas de utilidade duvidosa e pouco sustentável ao planeta.
Encaixam-se desordenadamente como peças feias e desproporcionais. Algumas já vieram com defeitos e outras estão enferrujadas. Mas as peças funcionam para os personagens no cotidiano. Que vivem, morrem e vivem.
Se parece mais com coisa, rótulo, vírus, burguês, bicho, planta, etê, louco, amigo imaginário, sonho, luz e sombra, do que gente. Não apenas "gente".
Também pode ser alma.
Fabiane Zambon é designer, mas também atriz, mas também escreve hipertextos cheios de som e ramos no seu blog. Ela também fez esse texto de presente pra ela mesma no seu aniversário há dois anos atrás.
Uma parafernalha sucateada de átomos, genes, hormônios, ideias e emoções bizarras, dentre outras bugigangas de utilidade duvidosa e pouco sustentável ao planeta.
Encaixam-se desordenadamente como peças feias e desproporcionais. Algumas já vieram com defeitos e outras estão enferrujadas. Mas as peças funcionam para os personagens no cotidiano. Que vivem, morrem e vivem.
Se parece mais com coisa, rótulo, vírus, burguês, bicho, planta, etê, louco, amigo imaginário, sonho, luz e sombra, do que gente. Não apenas "gente".
Também pode ser alma.
Fabiane Zambon é designer, mas também atriz, mas também escreve hipertextos cheios de som e ramos no seu blog. Ela também fez esse texto de presente pra ela mesma no seu aniversário há dois anos atrás.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
"The Man With Beautiful Eyes" - Charles Bukowski
Um belo poema de Charles Bukowski transformado em animação por Jonathan Hodgson
Dica do Gabriel Gianordoli.
Não sabe quem é o Bukowski? Descubra aqui!
Dica do Gabriel Gianordoli.
Não sabe quem é o Bukowski? Descubra aqui!
domingo, 5 de julho de 2009
Eu não sou fácil - Karla Jacobina
Karla Jacobina é uma jovem escritora. Com o apoio da prefeitura de São Paulo, ministra uma oficina de literatura e artes integradas, no Centro Cultural Tendal da Lapa. A característica mais marcante em seu trabalho é impedir que o texto morra no papel: "O papel não é uma morte, mas é uma cama, confortável demais para os meus textos" Além de escrever, Karla atua, dança e toca. Mais informações na página oficial da artista
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quarta-feira, 24 de junho de 2009
O que te inspira - Karol Felicio
-Leia mais poesia de autores novos aqui
Ilustração do caderno de Croquis Pagu - 1924

Eu não sei colocar preços nas coisas. Um João me ofereceu “um trabalho independente de poesias com desenhos em nanquim a uma quantia voluntária” eu quis, mas não comprei, eu não gostaria de por um preço no João.
Também não sei o quanto vale o meu sossego. Mas sei que vale muito. Eu pago caro por você. Você é o escambo que fiz pelo meu sossego.
[No que você pensa enquanto eu penso nele? Normalmente você faz silêncio...]
Eu não tenho tido tempo de pensar. Preciso silenciar, deixar o corpo calar, e parir palavras que derramem no papel.
Hoje eu vi tantas coisas belas, rosas de tantas cores, laranjas amarelas, como nunca as tinha visto. Fluorescentes. Florescendo.
Também tinha um velhinho corcunda, sentado sob o busto de um senhor esguio, na escada. Seria D. Pedro? Ele usava óculos engraçados.
O que te inspira?
Também não sei o quanto vale o meu sossego. Mas sei que vale muito. Eu pago caro por você. Você é o escambo que fiz pelo meu sossego.
[No que você pensa enquanto eu penso nele? Normalmente você faz silêncio...]
Eu não tenho tido tempo de pensar. Preciso silenciar, deixar o corpo calar, e parir palavras que derramem no papel.
Hoje eu vi tantas coisas belas, rosas de tantas cores, laranjas amarelas, como nunca as tinha visto. Fluorescentes. Florescendo.
Também tinha um velhinho corcunda, sentado sob o busto de um senhor esguio, na escada. Seria D. Pedro? Ele usava óculos engraçados.
O que te inspira?
Karol Felicio é mulher e sabe o que quer. Filha de Pagu, jornalirista made in Espírito Santo gosta que devorem suas poesias(indigestas ou não) aqui ou em seu blog. Com garfo e faca ou com as mãos.
=>Envie seus textos para clube.ideias@gmail.com
=>Mais poesias da Karol aqui
sábado, 20 de junho de 2009
Em cartaz - Bárbara dos Anjos
-Leia mais poesias da Bárbara aqui!
Se um dia eu fosse resumir nosso amor, seria em forma de trailer
Como uma chamada desses filmes de casal, meio cabeça, meio banal
Uma edição lenta, algumas boas piadas e muitos diálogos de impacto
Tudo com uma trilha de bossa nova em inglês, editadas num compacto
Nosso amor não é um clipe frenético de uma banda indie e decadente
Com beijos confusos, rápidas imagens recortadas
E poucos momentos de amor entre brigas mal consertadas.
No final deste filme que sou mais que atriz
Quero um final agridoce: alegre mas meio em aberto
Só para provar que a vida é uma eterna escolha em ser feliz.
Mesmo tendo passado muito tempo da faculdade na biblioteca lendo clássicos da literatura, a gaúcha Bárbara dos Anjos não tem vergonha de assumir que adora comédias românticas e músicas da Britney Spears.
=>Faça como a Bárbara e envie suas poesias para clube.ideias@gmail.com
Se um dia eu fosse resumir nosso amor, seria em forma de trailer
Como uma chamada desses filmes de casal, meio cabeça, meio banal
Uma edição lenta, algumas boas piadas e muitos diálogos de impacto
Tudo com uma trilha de bossa nova em inglês, editadas num compacto
Nosso amor não é um clipe frenético de uma banda indie e decadente
Com beijos confusos, rápidas imagens recortadas
E poucos momentos de amor entre brigas mal consertadas.
No final deste filme que sou mais que atriz
Quero um final agridoce: alegre mas meio em aberto
Só para provar que a vida é uma eterna escolha em ser feliz.
Mesmo tendo passado muito tempo da faculdade na biblioteca lendo clássicos da literatura, a gaúcha Bárbara dos Anjos não tem vergonha de assumir que adora comédias românticas e músicas da Britney Spears.
=>Faça como a Bárbara e envie suas poesias para clube.ideias@gmail.com
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Cheiroso - Cidadão das Nuvens
-Leia mais poesias do Cidadão das Nuvens
Para Delourdes de Jesus (vó)
O travesseiro que herdei da infância
- e até hoje descansa a minha cachimônia -
nada tem do tempo
em que éramos bebês.
Cheiroso nasceu em São Paulo, 1983.
De seu primeiro manto (fronha)
nenhuma especulação,
lenda ou fotografia ;
o retalho e a linha
substituídos no primeiro transplante,
aos onze anos de idade ;
engorda-lhe-ia algodão,
ao invés de espumas,
não fossem afiadíssimos
os dentes que, fatidicamente,
esvaziaram-no
na virada do milênio.
Moldado, pouco a pouco,
em cirurgias necessárias,
notei-lhe o novo apenas
ao achar, dia desses,
um olhar
de parente distante
na bagunça do chão.
Querido e criminoso tempo,
seu capanga - disfarçado, quase sempre
de rotina - levou a fronha
do Cheiroso, o retalho
do Cheiroso, a linha
e o algodão do Cheiroso.
Ele que não ouse,
jamais, levar
- fruto do sopro
de minha avó costureira -
a alma do Cheiroso :
tudo que lhe resta
do dia do presente.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
=>Faça como como o Renato e mande suas poesias para clube.ideias@gmail.com
Para Delourdes de Jesus (vó)
O travesseiro que herdei da infância
- e até hoje descansa a minha cachimônia -
nada tem do tempo
em que éramos bebês.
Cheiroso nasceu em São Paulo, 1983.
De seu primeiro manto (fronha)
nenhuma especulação,
lenda ou fotografia ;
o retalho e a linha
substituídos no primeiro transplante,
aos onze anos de idade ;
engorda-lhe-ia algodão,
ao invés de espumas,
não fossem afiadíssimos
os dentes que, fatidicamente,
esvaziaram-no
na virada do milênio.
Moldado, pouco a pouco,
em cirurgias necessárias,
notei-lhe o novo apenas
ao achar, dia desses,
um olhar
de parente distante
na bagunça do chão.
Querido e criminoso tempo,
seu capanga - disfarçado, quase sempre
de rotina - levou a fronha
do Cheiroso, o retalho
do Cheiroso, a linha
e o algodão do Cheiroso.
Ele que não ouse,
jamais, levar
- fruto do sopro
de minha avó costureira -
a alma do Cheiroso :
tudo que lhe resta
do dia do presente.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
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domingo, 14 de junho de 2009
Cowboy lírico e o sorvete de creme - Frico
Neste domingo está rolando a parada gay na Avenida Paulista. Segue uma pequena homenagem beat do Clube à diversidade e liberdade de sexualidade.
Frico deixa de lado a carcaça branca machista quando sonha que "Espero que um dia meu filho não precise fingir". Além do jornalismo que lhe paga o salário, ele escreve poesias e resenhas em seu blog Punk Brega
=>Mande seus textos, poesias e manifestos libertários para clube.ideias@gmail.com
O cowboy lírico entra no velho boteco
Toca Bob Dylan no iPod do traveco
"Quero conhaque nacional, meu chapa"
O fora da lei escarra seu pedido na lata
"As coisas estão mudando", diz o garçom
Ele é gay e tem um terninho marrom
"Assistiu "Milk" no espaço Unibanco"
É preto mas transa um playboy branco
Ontem eu saí de mãos dadas com meu homem na Paulista
Ninguém me xingou de bicha, isso foi uma conquista
Espero que um dia meu filho não precise fingir
Que pensa em mulher antes de dormir
"Os dias estão bem mais quentes, né?"
O taxista está suando em bicas debaixo do boné.
"É sim, meu truta, o tempo está louco"
"Temos que fazer alguma coisa, gritar até ficar rouco"
Não sei, será tão ruim um pequeno apocalipse?
Os bons se salvarão num eterno eclipse
Os homens morrem mas o universo segue imenso
Os dinossauros foram pro saco e ninguém ficou tenso.
"Me dá um dinheiro senhor, eu também tenho fome"
Eu tenho dinheiro, mas não dei, hoje ele não come
ver muitas vezes a Mona Lisa faz dela uma puta
Ver muitas vezes a miséria tira a fé na nossa luta.
O Cowboy lírico dispara certeira sua poesia
Cria universos vermelhos de uma gostosa anarquia
Liberdade não é bagunça, diz a pichação na minha cidade
Rita Cadillac rebola celulite e idade
"Gosto de mulher assim, saca? De verdade"
"O que é a verdade, meu querido? Homem é diversidade"
"Você gosta de homem, eu gosto de poesia."
"Sua verdade heterossexual me mata de asia. "
Conhaque agradável, fica saboroso com cerveja.
Essa música do Radiohead faz sentido com tristeza.
Não existe uma verdade, mas existe a felicidade?
Filósofo de boteco, vá beber na faculdade.
Vou ensinar os alunos a serem felizes, ensiná-los o gosto
Da chuva? Do corpo banhado em vinho? Das covinhas do seu rosto?
Não, tenho a felicidade sintetizada num wireframe
Se resume a um pote grande com calda e sorvete de creme
Toca Bob Dylan no iPod do traveco
"Quero conhaque nacional, meu chapa"
O fora da lei escarra seu pedido na lata
"As coisas estão mudando", diz o garçom
Ele é gay e tem um terninho marrom
"Assistiu "Milk" no espaço Unibanco"
É preto mas transa um playboy branco
Ontem eu saí de mãos dadas com meu homem na Paulista
Ninguém me xingou de bicha, isso foi uma conquista
Espero que um dia meu filho não precise fingir
Que pensa em mulher antes de dormir
"Os dias estão bem mais quentes, né?"
O taxista está suando em bicas debaixo do boné.
"É sim, meu truta, o tempo está louco"
"Temos que fazer alguma coisa, gritar até ficar rouco"
Não sei, será tão ruim um pequeno apocalipse?
Os bons se salvarão num eterno eclipse
Os homens morrem mas o universo segue imenso
Os dinossauros foram pro saco e ninguém ficou tenso.
"Me dá um dinheiro senhor, eu também tenho fome"
Eu tenho dinheiro, mas não dei, hoje ele não come
ver muitas vezes a Mona Lisa faz dela uma puta
Ver muitas vezes a miséria tira a fé na nossa luta.
O Cowboy lírico dispara certeira sua poesia
Cria universos vermelhos de uma gostosa anarquia
Liberdade não é bagunça, diz a pichação na minha cidade
Rita Cadillac rebola celulite e idade
"Gosto de mulher assim, saca? De verdade"
"O que é a verdade, meu querido? Homem é diversidade"
"Você gosta de homem, eu gosto de poesia."
"Sua verdade heterossexual me mata de asia. "
Conhaque agradável, fica saboroso com cerveja.
Essa música do Radiohead faz sentido com tristeza.
Não existe uma verdade, mas existe a felicidade?
Filósofo de boteco, vá beber na faculdade.
Vou ensinar os alunos a serem felizes, ensiná-los o gosto
Da chuva? Do corpo banhado em vinho? Das covinhas do seu rosto?
Não, tenho a felicidade sintetizada num wireframe
Se resume a um pote grande com calda e sorvete de creme
Frico deixa de lado a carcaça branca machista quando sonha que "Espero que um dia meu filho não precise fingir". Além do jornalismo que lhe paga o salário, ele escreve poesias e resenhas em seu blog Punk Brega
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sexta-feira, 12 de junho de 2009
Keep Walking, Neruda Walker - Fabiane Zambon
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
Walking around. Do Neruda, o Pablo.
- Ô. Diz que eu fui por aí.
- Si, caminar siempre.
- Enquanto houver o ritmo, a métrica e o pé. Tchau.
- Hasta, Neruda.
Nara Leão - Diz que eu fui por aí
Fabiane Zambon é atriz, mas tem vergonha de divulgar suas peças. Designer multimídia mas tem vergonha de ser artista. Poetisa da hipermída, mas com vergonha de divulgar os rabiscos. Esqueça as indecições dessa libriana e leia mais textos zaizers no seu Loading Myself
=>Mande seus textos e viagens para clube.ideias@gmail.com
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
Walking around. Do Neruda, o Pablo.
- Ô. Diz que eu fui por aí.
- Si, caminar siempre.
- Enquanto houver o ritmo, a métrica e o pé. Tchau.
- Hasta, Neruda.
Nara Leão - Diz que eu fui por aí
Fabiane Zambon é atriz, mas tem vergonha de divulgar suas peças. Designer multimídia mas tem vergonha de ser artista. Poetisa da hipermída, mas com vergonha de divulgar os rabiscos. Esqueça as indecições dessa libriana e leia mais textos zaizers no seu Loading Myself
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segunda-feira, 8 de junho de 2009
O tedioso destino do seu nando - Amaury Pavão
-Amaury já escreveu um conto pro Clube, lembra?
.rapaiz do céu
.o seu nando tava lá sem ter o que fazer
.plantou bananeira
.nadou de costas
.bateu palmas
.nada o satisfaz
.flores secas
.água sem gosto
.angústia do diabo
.vida de ócio
.sabe-se-la-o-que
.novos tempos
.vida antiga
.tédio sempre
.rapaiz do céu
.o seu nando tava lá sem ter o que fazer
.plantou bananeira
.nadou de costas
.bateu palmas
.nada o satisfaz
.flores secas
.água sem gosto
.angústia do diabo
.vida de ócio
.sabe-se-la-o-que
.novos tempos
.vida antiga
.tédio sempre
Amaury Pavão Filho é jornalista e programador, filho de jornalista e irmão de programador. Diz ter orgulho de Penápolis, cidade onde foi criado, mas não assitiu o Clube Atlético Penapolense tomando fumo do Pão de Açúcar na série A3. Escrevinha em seu blog e também é conhecido como Kustelinha pelos íntimos.
Faça como Amaury e mande seus textos para clube.ideias@gmail.com
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Meu poema de Amor - Karla Jacobina
Beijo é brinde
meu amor machuca
não porque é meu
mas porque é pai
que cinta e educa
meu amor cicuta
me menstrua
e me arapuca
crina de navalha
ventre de cumbuca
meu amor cutuca
peito de vidro
com vara curta
meu amor amputa
perna de saci
e abraço de cuca
meu amor prostituta
sem nome na faixa
panetone na caixa
aliança na puta
meu amor machuca
não porque dói
porque não assopra
não sara nem luta
porque dó quem
dá é viola
meu amor batuca
maracatuca
dá o que flor
meu amor gruta
doa em quem doer
doa pra quem doar
porque amor
não é garupa
não porque é meu
mas porque é pai
que cinta e educa
meu amor cicuta
me menstrua
e me arapuca
crina de navalha
ventre de cumbuca
meu amor cutuca
peito de vidro
com vara curta
meu amor amputa
perna de saci
e abraço de cuca
meu amor prostituta
sem nome na faixa
panetone na caixa
aliança na puta
meu amor machuca
não porque dói
porque não assopra
não sara nem luta
porque dó quem
dá é viola
meu amor batuca
maracatuca
dá o que flor
meu amor gruta
doa em quem doer
doa pra quem doar
porque amor
não é garupa
Karla Jacobina é uma jovem escritora. Com o apoio da prefeitura de São Paulo, ministra uma oficina de literatura e artes integradas, no Centro Cultural Tendal da Lapa. A característica mais marcante em seu trabalho é impedir que o texto morra no papel: "O papel não é uma morte, mas é uma cama, confortável demais para os meus textos" Além de escrever, Karla atua, dança e toca. Mais informações na página oficial da artista
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sábado, 23 de maio de 2009
O céu da boca - Cidadão das Nuvens
O céu da boca é finito.
Preto quando a gente cala
poema, bronca, grito;
Vermelho quando a gente fala.
A língua... a língua é o chão
que sobre o céu da boca chove.
Terremoto? Há: Emoção ! –
Quando a sua sobre a minha se move...
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
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Preto quando a gente cala
poema, bronca, grito;
Vermelho quando a gente fala.
A língua... a língua é o chão
que sobre o céu da boca chove.
Terremoto? Há: Emoção ! –
Quando a sua sobre a minha se move...
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
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quarta-feira, 20 de maio de 2009
Meu pedaço - Karol Felicio

É tão afinado que não se te sigo ou me deixo fluir
É tão perfeitinho que não sei se existe ou fui eu quem pari
É tão combinado que eu já não sei quando é moda
- como “bolsa e sapato” –
Ou se hoje eu queria andar nu e descalço para me sentir livre,
como quando nasci
- mas deve fazer frio assim -
É tão óbvio, certeiro, fácil
É pré-moldado, sob medida, encomendado
É tão inacreditável
Que eu fico a me perguntar
Será que o nosso amor existe
ou foi só uma farsa que eu consenti?
É que quando acordo eu não sei se sonhei ou vivi
É que quando juro eu já não sei se menti
E eu já não sei se fico para o parto ou prefiro partir
É que eu tinha um buraco no peito
Era gelado e doía
- que tilintava -
Você veio ser o pedaço que faltava
Eu aceitei
- nada custava –
Agora já não sei se existo se não for assim
É tão perfeitinho que não sei se existe ou fui eu quem pari
É tão combinado que eu já não sei quando é moda
- como “bolsa e sapato” –
Ou se hoje eu queria andar nu e descalço para me sentir livre,
como quando nasci
- mas deve fazer frio assim -
É tão óbvio, certeiro, fácil
É pré-moldado, sob medida, encomendado
É tão inacreditável
Que eu fico a me perguntar
Será que o nosso amor existe
ou foi só uma farsa que eu consenti?
É que quando acordo eu não sei se sonhei ou vivi
É que quando juro eu já não sei se menti
E eu já não sei se fico para o parto ou prefiro partir
É que eu tinha um buraco no peito
Era gelado e doía
- que tilintava -
Você veio ser o pedaço que faltava
Eu aceitei
- nada custava –
Agora já não sei se existo se não for assim
-Leia mais poesia aqui!
Karol Felicio é mulher e sabe o que quer. Filha de Pagu, jornalirista made in Espírito Santo gosta que devorem suas poesias(indigestas ou não) aqui ou em seu blog. Com garfo e faca ou com as mãos.
=>Envie seus textos para clube.ideias@gmail.com
=>Mais poesias da Karol aquisegunda-feira, 18 de maio de 2009
Drogas - Frico
-Tá afim de ler mais poesia? Clica aqui!
Já tomei cerveja, pinga e conhaque
Tracei whiskey, vodka e Prozac
Azpraz, marijuana, lança perfume
Bolonha, haxixe e estrume
Novelas, tequila, absinto
Sermões, pornografia e sinto
Ainda sinto a mesma dor que me mantém ligado
Não consigo dormir, não fico parado
Não vou me matar, não vou desistir
Não vou enlouquecer, nem deixar de sorrir.
Sou igual a todos na doença e na glória
Minha única diferença é minha memória.
Não esqueço um segundo as dores do mundo.
Insisto em dar luz a este existir vagabundo
Já tomei cerveja, pinga e conhaque
Tracei whiskey, vodka e Prozac
Azpraz, marijuana, lança perfume
Bolonha, haxixe e estrume
Novelas, tequila, absinto
Sermões, pornografia e sinto
Ainda sinto a mesma dor que me mantém ligado
Não consigo dormir, não fico parado
Não vou me matar, não vou desistir
Não vou enlouquecer, nem deixar de sorrir.
Sou igual a todos na doença e na glória
Minha única diferença é minha memória.
Não esqueço um segundo as dores do mundo.
Insisto em dar luz a este existir vagabundo
Frico Giacomo, jornalista, blogueiro, baixista e escrevinhador. Suas drogas favoritas são a cerveja gelada e os filmes pornôs da Rita Cadillac. Mais rabiscos do Frico no blog Punk Brega
=>Mande sua poesia pra gente também! Escreva para clube.ideias@gmail.com
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Enquanto Dormem - Cidadão das Nuvens
Encontrar-se-ão,
trêmulos e cabisbaixos,
com a barba por fazer,
em sociedades secretas
da paulicéia desvairada.
Planejarão contra o homem que
por sobre o sexo deles tem
urinado com certa freqüência
enquanto dormem.
Um tostão de palestra sobre tal pessoa:
Cheirando à aguardente,
comungado ao tropeço,
adentra a casa da vítima
valendo-se da chave que
a mesma lhe doara;
com ares de palhaço enche
bexigas, as quais,
em forma de cachorros bipolares,
ameaçam a dona da casa e
distraem, abanando os rabos e
lambendo-lhes o rosto,
os pequenos que jamais
à praça os levariam;
finalizando o ritual – não
antes de, os quadrúpedes, estourá-los -
afasta-se doze passos do desacordado
e, sobre ele, urina.
Por isso, reunir-se-ão, os convivas
da inicial estrofe:
Permutarão forças pelo sonho
de estarem despertos,
armados e espertos,
quando o mambembe
da máscara de espelho
aparecer.
Nesse momento, expulsá-lo, alivia,
por um dia mais –
só por hoje;
assassiná-lo, condena, à liberdade perpétua.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
=>Faça como o Renato e mande suas poesias para clube.ideias@gmail.com
trêmulos e cabisbaixos,
com a barba por fazer,
em sociedades secretas
da paulicéia desvairada.
Planejarão contra o homem que
por sobre o sexo deles tem
urinado com certa freqüência
enquanto dormem.
Um tostão de palestra sobre tal pessoa:
Cheirando à aguardente,
comungado ao tropeço,
adentra a casa da vítima
valendo-se da chave que
a mesma lhe doara;
com ares de palhaço enche
bexigas, as quais,
em forma de cachorros bipolares,
ameaçam a dona da casa e
distraem, abanando os rabos e
lambendo-lhes o rosto,
os pequenos que jamais
à praça os levariam;
finalizando o ritual – não
antes de, os quadrúpedes, estourá-los -
afasta-se doze passos do desacordado
e, sobre ele, urina.
Por isso, reunir-se-ão, os convivas
da inicial estrofe:
Permutarão forças pelo sonho
de estarem despertos,
armados e espertos,
quando o mambembe
da máscara de espelho
aparecer.
Nesse momento, expulsá-lo, alivia,
por um dia mais –
só por hoje;
assassiná-lo, condena, à liberdade perpétua.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
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quarta-feira, 6 de maio de 2009
De volta pra casa - Bárbara dos Anjos
Onde vim parar?
Quem me tornei?
Quero voltar um pouco.
Quero sapatinhos vermelhos para bater três vezes meus calcanhares e dizer “não há lugar como minha casa”.
Me leve de volta para minha casa.
Para a melhor parte de mim.
Quero meu Kansas confortável, bucólico, familiar e quentinho.
Não quero confusão. Não quero fofoca.
Não quero gritos histéricos.
Quero simplicidade.
Ser sempre simples e cada vez mais simples.
Quero ouvir a música um pouco mais baixa e com a luz um pouco mais fraca.
Quero felicidades simples e verdadeiras.
Abraços, sorrisos e lágrimas.
Muitas lágrimas quentes de felicidade.
Quero dias de verão na beira da praia.
Mesas com poucos e bons amigos.
Quero ver bons filmes no cinema.
E outros melhores ainda sentada no sofá com meu amor.
Quero morar num quadro da Mary Poppins. Alguém me leva?
Quero que VOCÊ, VOCÊ e VOCÊ venham comigo.
O combinado é cada um levar o melhor de si e deixar tudo de ruim para trás.
Agora é só fechar os olhos conta: 1, 2, 3.
Pronto.
Daqui para frente somos só a melhor parte de nós mesmos.
A melhor e mais simples de parte de nós mesmos.
Combinado?
Bárbara dos Anjos é jornalista, gaúcha e libriana. Mora em São Paulo e gosta de roxo, cerveja e filmes antigos. Acha que está saindo de um bloqueio criativo. Mas como boa libriana está meio insegura. O que você acha?
=>Mande sua poesia pra gente também! Escreva para clube.ideias@gmail.com
Quem me tornei?
Quero voltar um pouco.
Quero sapatinhos vermelhos para bater três vezes meus calcanhares e dizer “não há lugar como minha casa”.
Me leve de volta para minha casa.
Para a melhor parte de mim.
Quero meu Kansas confortável, bucólico, familiar e quentinho.
Não quero confusão. Não quero fofoca.
Não quero gritos histéricos.
Quero simplicidade.
Ser sempre simples e cada vez mais simples.
Quero ouvir a música um pouco mais baixa e com a luz um pouco mais fraca.
Quero felicidades simples e verdadeiras.
Abraços, sorrisos e lágrimas.
Muitas lágrimas quentes de felicidade.
Quero dias de verão na beira da praia.
Mesas com poucos e bons amigos.
Quero ver bons filmes no cinema.
E outros melhores ainda sentada no sofá com meu amor.
Quero morar num quadro da Mary Poppins. Alguém me leva?
Quero que VOCÊ, VOCÊ e VOCÊ venham comigo.
O combinado é cada um levar o melhor de si e deixar tudo de ruim para trás.
Agora é só fechar os olhos conta: 1, 2, 3.
Pronto.
Daqui para frente somos só a melhor parte de nós mesmos.
A melhor e mais simples de parte de nós mesmos.
Combinado?
Bárbara dos Anjos é jornalista, gaúcha e libriana. Mora em São Paulo e gosta de roxo, cerveja e filmes antigos. Acha que está saindo de um bloqueio criativo. Mas como boa libriana está meio insegura. O que você acha?
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