segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Indigesto - Karol Felicio

Pobre da poesia que nasce na morte do amor
E daquela música que sorria
e agora toca e dói
Aquela foto que rasga e sangra
e aquela cama que chora e chora

Pobre do poeta que se alegra com a arte que faz
do estrago do seu próprio amor
Pobre do leitor, que admira a dor, mastiga as vísceras do poeta,
essa tristeza indigesta, engole num copo d’água,
fecha a tela, vira a página, sai, e nem olha para traz

Pobre dessa gente, por toda parte, que se ressente
A garota que dobrou a esquina, o moço que fechou a porta e afrouxou o nó da gravata,
Aquela senhora que passa, aquele menino que cala
Se quiser alegria dirija-se ao guichê ao lado
E tudo isso é matéria prima, vai dar à luz a algumas linhas, que, por hora, nem da gaveta saem
A gente produz muito lixo, anda descalço no esgoto
A gente faz amor com a peste, para nascer algo que preste
E às vezes a gente joga pérolas aos porcos
A gente escreve
E espera que alguém goste, ou que alguém deteste
Mas espera que alguém leia.

Karol Felicio é mulher, filha de Pagu, jornalirista made in Espírito Santo, e gosta que devorem suas poesias(indigestas ou não) aqui ou em seu blog. Com garfo e faca ou com as mãos.

2 comentários:

Di Giacomo disse...

Eu gostei desse seu lado menos romântico(nada contra o lado romântico) e mais ácido! :-P

Filhas da Pagu disse...

Também gosto Fred... Mas são fases né, não tenho muita escolha! rsrs
Beijos
Karol