-Leia mais poesias do Cidadão das Nuvens
Para Delourdes de Jesus (vó)
O travesseiro que herdei da infância
- e até hoje descansa a minha cachimônia -
nada tem do tempo
em que éramos bebês.
Cheiroso nasceu em São Paulo, 1983.
De seu primeiro manto (fronha)
nenhuma especulação,
lenda ou fotografia ;
o retalho e a linha
substituídos no primeiro transplante,
aos onze anos de idade ;
engorda-lhe-ia algodão,
ao invés de espumas,
não fossem afiadíssimos
os dentes que, fatidicamente,
esvaziaram-no
na virada do milênio.
Moldado, pouco a pouco,
em cirurgias necessárias,
notei-lhe o novo apenas
ao achar, dia desses,
um olhar
de parente distante
na bagunça do chão.
Querido e criminoso tempo,
seu capanga - disfarçado, quase sempre
de rotina - levou a fronha
do Cheiroso, o retalho
do Cheiroso, a linha
e o algodão do Cheiroso.
Ele que não ouse,
jamais, levar
- fruto do sopro
de minha avó costureira -
a alma do Cheiroso :
tudo que lhe resta
do dia do presente.
Renato Silva é um estudante de letras, está formando um grupo de poetas em sampa, ama o São Paulo e torresmo com cerveja. Não acredita no homem em si, mas crê na humanidade. Adora que o chamem pelo nome, mais ainda quando pelo "codinome": Cidadão das nuvens. Você pode ver mais poesias dele no seu blog
=>Faça como como o Renato e mande suas poesias para clube.ideias@gmail.com
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Adorei! Poderia até estender a homenagem ao meu "Cheiroso" - que se chama Nani! ;)
Lirismo das coisas boas e simples
Incrível como a gente projeta lembranças tão boas em coisas aparentemente insignificantes... isso aos outros, mas para nós elas são jóias raras. Sei como é isso. Parabéns pela poesia!
Postar um comentário