sábado, 28 de fevereiro de 2009

"Fantasma" - Cecilia Di Giacomo

"Fantasma" ou "Saudades, prego, parafuso" (Zeca Baleiro)



Thimos-thumos,
thimos-thumos,
thimos-thumos.
O relógio vai bater
e o encanto acabar
Você não sabe...
Sou um fantasma
Sou a soma de todas as projeções
Não sou nada
A falta de amparo.
Sou só uma mulher
Alma de Iansã
Thimos.

Cecilia Di Giacomo pinta, mas também escreve poesia e esculpe. Seus olhar feminino(ista) está sempre em cima de corpos e sensações.

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Mais uma noite - Eleutherius

_Nossa como está frio!!
- Está mesmo.
- Boa noite, senhor...

O vento gelado envolve meu corpo, nossa como está frio, sinto arrepios, apenas uma camiseta preta... Puxa, devia ter ouvido minha mãe: "_ Leva a blusa que vai fazer frio", dona Maria uma rainha!!! Quando não as ouvimos a gente se fode!!!
Mais uma noite, mais alguns trocados, assim logo terei minha carta de habilitação, R$ 1000,00 conto, puta que o pariu, caro pra caralho.

_ O parceiro aonde é o banheiro?
_ É logo ali...

Putz, nem um obrigado. Pessoas começam a entrar, estou só essa noite, que Deus me proteja, e São Jorge também, tenho confiança nele, já me salvou de várias tretas.

_ Pois não, senhor?
_ Opa! Tranqüilo? Viu... Quantas mulheres tem hoje?
_ Hoje estamos trabalhando com seis, senhor...
_ Humm, bom... Quanto é a entrada?
_Senhor R$ 10,00 e tem direito a três cervejas!
_ Porra, tá caro!!!
Mão de vaca do caralho, tem quatro fazendas, canavieiro, tem dinheiro e tá reclamando.
_ Eu pago, vou entrar
_ Sim senhor, aguarde que vou efetuar a revista no senhor...
_Tem isso também?
_ Senhor, guarde a arma no carro, por favor.
_ Olha garoto vou ficar com ela
Puta merda, só falta encrencar agora.
_Senhor... Com arma não entra.
_Faz assim, fica com ela pra mim, depois eu pego.
Nossa, mais uma, já não basta a minha? Cara folgado...

Ambiente escuro, a música toca na máquina, mais R$1,00, mais uma música... Assim a madrugada vem, lenta e traiçoeira...Me assusto com uma barata no meu pé, filha da puta vou te dar um tiro. Clientes e mais Clientes, homens casados, homens separados, homens... Todos solitários e carentes, sem sorte no amor, frustrados.
Puxa mais um strip-tease, cansei de ver, vou ver a lua, faz tempo que não a vejo.

_Luciano tem um cara cheirando no banheiro, porra, te pago pra que?
Nossa! Mas já? Parece que noite vai ser longa.
_ E ai, irmão, firmeza? Então, se quiser cheirar vai lá fora, aqui não dá.
_É rapidinho, só tem uma carreira. É um, dois!!!
_ Não dá, ou você cheira, ou você vai embora.
_ É rapidinho.
Não acredito que ele vai encher minha paciência logo agora.
_ Você vai cheirar? Então deixa eu ver essa carreira...
O idiota ainda mostra. Uma carreira grande e gorda em cima da tampa do sanitário.
Fuuuuuuuuuuuuuhhhhhhhhh, um leve assopro, que dó!!!
_Caralho, irmão, era meu último papelote
_Foda-se, pra fora!!!
_Firmeza... Vou te encontrar ainda.
Nossa, mais um, acho que ele vai ter que pegar senha, a fila pra me matar ta grande.

Volto para a portaria, de um lado um copo de uísque, do outro um recipiente com alho e sal grosso, espanta mal olhado e atrai mais cliente. Estou com fome, que horas são? Quase 2 da manhã, nossa tem chão ainda pra noite acabar...
Adoro essa música, Jenifer Lopez; Love Don't Cost a Thing, já sei quem a colocou... Primeira dedução e acerto, olho à máquina de música e lá está ela, Luciana. Morena clara, estatura mediana, cabelos até os ombros castanhos claros, hoje ela está mais moderada, veste um vestido branco um palmo antecedendo o joelho, sem sutiã, com uma sandália de salto. (risos) Sou louco por ela, meus olhos brilham ao notar sua presença, um leve sorriso aparece no canto da minha boca, tento esconder a satisfação em vê-la, mas não dá, pareço um pit bull ao ver o dono.

_Olá moço, tudo bem? Me dá um abraço.
_Oi, como você está?
Abraço ela e sinto seu cheiro...O pecado da minha vida!!! Ela me dá um leve beijo, fico parado e aproveito o momento, logo volto a mim e percebo que alguém se aproxima, é o patrão!!! Fudeu, ele não gosta que me envolva com as meninas em hora de serviço, espanta os clientes.
_Vai para a portaria Luciano.
_Sim, senhor!!!
Nossa, falo senhor o tempo inteiro, quando será que me chamarão de senhor? A última vez que me chamaram de senhor, foi quando o sargento no quartel me colocou de guarda: "Parabéns, Senhor, acaba de ganhar um final de semana no quartel !!!". Gente fina o sargento, ensinou-me muitas coisas.
_ Briga!!! Briga!!!
De repente ouço gritos, minha barriga gela, meu coração dispara, os olhos começam a ficar vermelhos... É agora, a adrenalina domina meu corpo, em instantes chego no balcão, a confusão está armada, são dois, respiro, consigo dominar um, o outro se afasta, levo o cliente pra fora, ele nada fala, segue em direção ao seu carro, abre a porta e mexe debaixo do banco, sem vacilar pego minha arma engatilho e espero... minhas pernas tremem...a respiração é incontrolável...quando ele se levanta vejo um objeto em sua mão, não consigo identificar, ele se aproxima...mais um passo e revelo meu guardião.
_Aí, irmão, perdeu, fica parado ai mesmo, larga isso e deita no chão...
Ele não obedece...
_Parado, porra, caralho, parado!!!!
Parou, largou o objeto e deitou-se... Puta que o pariu, era um simulacro, uma arma finta, arma de brinquedo!!!
_Seu merda, ia me matar com isso?
Dou um tiro para o alto...
_Corre seu cuzão, entra no carro e vaza!!!
Em minutos ele não esta mais lá... Não foi dessa vez, agradeço a Deus e a São Jorge pela proteção, estou cansado, a adrenalina em excesso cansa, volto para dentro do estabelecimento e olho no relógio, são 5 horas, acabou.
_Ae, tio, tá na hora, passa o cadeado na porta.
_Sim, senhor...
Mais uma noite, mais alguns trocados.

Gilvan, vulgo Eleutherius, foi baterista da banda Militantes, cantou rap, participou do movimento estudantil em Penápolis e foi segurança dos mais variados tipos de estabelecimento. Faz poesia boêmia e marginal no blog Cicatriz Urbana

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Trotes violentos e volta às aulas - 13ª sessão do Clube de Ideias

Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo e Veloso.

Começa o ano, começam as aulas e a conversa é sempre a mesma, afirma o professor Teixeira: trotes violentos, planejamentos mentirosos que não reconhecem a realidade, corporativismo que garante aulas para o professor nota zero. O caos.

Os trotes existem desde o século XIV como rito de iniciação à universidade, diz o professor Machado. Lembra ainda, que a universidade é um centro de pesquisa, de conhecimento, local de reflexão. Mas tem prevalecido à tradição em oposição às transformações, afirma o professor Figueiredo. Os alunos veteranos não mudam a sua atitude, submetem os calouros à humilhação, pouco contribuindo para a sua integração na universidade. A iniciação dos calouros se transforma em violência gratuita, o que não deveria ser atitude de quem vai atuar na sociedade como profissional especializado, pesquisador, etc. Fica a impressão de que estudar é a barbárie, a bebedeira etc.

O que fazer? Para que serve a educação?

Quem deve estudar? Escola para quem?


As indagações permanecem porque as respostas estão distantes, diz o professor Veloso. O governo propõe conteúdos, avaliações, estratégias, ignorando a realidade, sem preocupações reais e concretas com o individuo, o futuro cidadão, afirma Teixeira.

O importante é a farsa. O aluno matriculado, alimentado pela escola, participando de atividades que não melhoram seu desempenho intelectual. A escola recebe a todos, reproduzindo o senso comum, iludindo a criança, o jovem, os pais. Pois basta estar na escola para no prazo de cerca de treze anos estar sofrendo o trote nas melhores universidades do pais . Doce ilusão!

E os salários? Não devo reclamar porque sabia o seu valor quando escolhi a profissão, afirmam dirigentes, diretores e donos de escolas. Dessa forma a carreira de magistério está em extinção definitiva. Claro, existirão os “educadores” sem formação a serviço da ordem reproduzindo os comportamentos criados pelo sistema.

Quem atua como professor, afirma Vladimir, deve usar como estratégia a desobediência civil, priorizando as suas ações como agente transformador da realidade. Deve ter coragem suficiente para dizer não as propostas oficiais que limitam a formação dos indivíduos. Não para o trabalho extraordinário não remunerado. Não a burocracia. Não a aprovação automática. Aproveito também, diz Vladimir, para felicitar o leitor das nossas sessões e colaborador do Clube de Ideias, senhor Eleutherius, que escreveu: “Via democrática para uma verdadeira mudança social? Creio que não, como utilizar a mesma ferramenta que realiza a manutenção das engrenagens para destruí-la? Chave de boca não é marreta, chave de fenda não é foice ou martelo.” Isso Vladimir, interrompe Figueiredo, agora só falta você e o senhor Eleutherius , criarem O MR-2009 e tomarem o poder. Mas o que fazer com o poder? , indaga Veloso.


A Miséria da educação, esta como a miséria da filosofia, a exemplo de Feuerbach sobre o materialismo, diz Machado. Governos propõem, organizam a educação afirmando cumprir o seu papel constitucional de formadores de cidadãos, mas o fim é outro. É a defesa do status social, que continua oferecendo educação diferenciada: alguns devem aprender outros devem fingir que aprendem.
Jáder Marcos Paes Correto da Rocha

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sketchbook 5 - Gabriel Gianordoli

Gabriel Gianordoli é um capixaba multimídia radicado em São Paulo - designer da editora Abril, ilustrador e guitarrista. Movido a Hurtmold, quadrinhos e trocadilhos ele está todo mês na revista Superinteressante, como designer, e no seu Flickr fazendo poesia com imagens

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Na Garagem - Ana Alice Gallo

Acorda que o sol te cega

Te nega o direito

De ser metade

Descobre que o corpo entrega

O que a alma jura

Não ter vontade

Aguça o ouvir do peito

Que o sentir garante

Não ter vantagem

Embarca sem itinerário

Que a dor morreu

Estacionada na garagem.


Ana Alice Gallo nasceu em Ribeirão Preto, vive em São Paulo e canhota, além de escrever poeminhas bacanas, é baterista e jornalista. Evita o estresse com doses de zen drugs e toca nas bandas Milhouse e Liga das Senhoras Católicas. Leia mais textos dela no brog Credencial Tosca.


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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Epicuro & Fórum Social Mundial - 12ª sessão do Clube de Ideias


Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo e Veloso.

Viva o Fórum Social! Exclama o professor Veloso.

Acredito que o Fórum está voltado para o próprio umbigo e esquece a dinâmica da sociedade, diz o professor Teixeira. Concordo, afirma Figueiredo, porque a ação deve realmente partir dos movimentos sociais e não do fórum, que se transforma muitas vezes em cenário para populistas como Hugo Chávez.

Discutimos um pouco de Epicuro para não perder a forma, lembrando uma máxima do seu pensamento: “podemos escapar a dor”.

Podemos entender essa máxima como podemos escapar ao sofrimento, que significa adversidade. Daí outra máxima de Epicuro: “desviar das fatalidades”, afirma Vladimir.

Ora, escapar das adversidades deve começar no bolso ou na mente? Força interior ou poder econômico? Poder econômico desprovido de consciência leva inexoravelmente a dominar o outro, lembra Figueiredo.

Dessa forma não existe libertação e nem superação do sofrimento ou fatalidades. Para acumular riqueza o caminho muitas vezes, ou quase sempre é árduo, podendo significar abrir mão da liberdade e perder bons momentos da vida, pois estaremos subordinados ao tempo ficcional do trabalho, diz o professor Vladimir.

Perdemos o controle do nosso tempo e nos sujeitamos a esperança de um tempo que não existirá, porque acabaremos morrendo de tanto trabalhar.

Assim terminamos essa sessão ouvindo as belas melodias de Charlie Parker ao sabor da Original.

Jáder Marcos Paes Correto da Rocha

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

... e quero assim - Karol Felicio


Quero alguém que decifre as minhas músicas
Que desvende os meus segredos
E venere os meus mistérios

Alguém para estancar todo esse sangue
a sensualidade contida e esse desejo que verte
e não encontra calhas onde escoar

Quero que percorra meus sons com os dedos
Que adentre essas cavernas
Que descubra esses caminhos

Alguém que termine as minhas deixas
Que, a cada frase que irrita, me complete
E a cada poro que grita, me liberte

Quero bom dia e a vontade de querer o dia inteiro
Quero gosto e quero cheiro
Quero toque e quero pele

Mas não quero tudo assim, exposto
Eu quero em partes, em etapas
E também não quero parte
Eu quero alguém. E quero inteiro.

Karol Felicio é mulher e sabe o que quer. Filha de Pagu, jornalirista made in Espírito Santo gosta que devorem suas poesias(indigestas ou não) aqui ou em seu blog. Com garfo e faca ou com as mãos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Bula do Amor - Frico

Bula do Amor - 2009

"O amor é uma droga", já avisou o médico.
"Calma, não um lixo, mas um tipo de remédio"
Excesso de paixão provoca medo e delírio
Tem contra-indicação como Prozac e chá de lírio

"Vamos conte tudo, sua angústia mais vã"
"Foi flechada do Cupido, que me pôs nesse divã"
Comprei o meu amor, no mercado que incendeia
Me venderam um peixinho, mas enxerguei uma sereia.


Os pedreiros e garis só têm olhos para namorada
Amigos se apaixonam, não respeitam mais nada
Dançarinos do baile só com ela vão dançar
Todos solteiros querem minha noiva pra casar

Lavagem estomacal e cartas de suicídio
Não aplacam o exagero que provoca prejuízo
Doses homeopáticas de ternura e desejo
São o antídoto para ciúmes e toda forma de exagero
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O ministério da saúde adverte: Amar mata - 2005
"Deus é uma sádico
que vicia o homem no amor
Vendendo só prazer
e esquecendo da contra indicação:
a dor"

Frico já foi punk, anarquista, jornalista, baixista,
poeteiro, ator, filho, namorado, culpado e inocente.
Mas nunca deixou de escrever e sonhar. Tudo isso no blog
Punk Brega

O Vento - Sabrina Barrios

Sabrina Barrios é designer vinda direto de Santa Maria - RS. Essa colorada faca na bota mora em São Paulo, trabalha na Editora Globo, e já expôs seus trabalhos na terra de "Sex And the City", Nova York. Chique né?

Mais design, colagens, formas e cores no
Flickr da moça.

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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Governo Lula e a revolução armada: 11ª sessão do Clube de Idéias

Penápolis, 1 de fevereiro 2009

Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo
e Veloso.


O senhor Eleutherius, leitor e colaborador do clube de idéias fez o seguinte comentário a respeito da 8ª sessão do clube de idéias: “Não há outra via de mudança social se não for com a revolução, digo mudança armada e do povo para o povo. Sim, todo grupo oprimido e revolucionário é um perigo a segurança nacional, e não pode perder esse caráter,pois sempre que a elite ouvir falar em revolução lembrará de sangue, de bens perdidos, de pólvora, de desapropriação e sem dúvida de guerra, de confronto e mortes...É o desespero de quem oprimiu ser oprimido. Não creio nas rosas, na ternura ao carregar uma arma. Dedo no gatilho, e pensamento frio, e a certeza de que nunca mais passará fome”

O professor Vladimir ficou empolgado com as observações, voltando a acreditar nas possíveis transformações radicais da sociedade. Já o professor Teixeira exclamou: pobres moços há se soubessem o que eu sei! O professor Figueiredo achou o comentário anacrônico e não acredita em mobilização armada da sociedade brasileira. Machado lembra que Luis Carlos Prestes, ícone da esquerda brasileira, era contrário a luta armada inclusive contra os militares após 1964. Qualquer transformação da sociedade brasileira só poderia acontecer através da democracia, pensava ele. Sua crença na luta armada terminou após a experiência negativa de 1935, quando o PCB com o apoio da URSS tentou destituir a ditadura de Vargas e implantar o regime comunista através das armas.
Essa discussão nos levou a refletir um pouco sobre o governo Lula e por sugestão do professor Machado resolvemos caracterizar o governo do PT através de provérbios.
Assim, sobre as ações econômicas do governo federal: “Dos males o menor”; “Pela casca se conhece o pau”; “Quem não trabuca não manduca”.
Sobre o meio ambiente: “De boas intenções o inferno está cheio”; “O sol nasce para todos”.
Forças Armadas: “Boi manso, aperreado, arremete.”; “Quem quer, vai; quem não quer, manda”
Educação: “Cada macaco no seu galho”
Alianças políticas: “As paredes tem ouvidos”; “Cada um puxa a brasa para a sua sardinha”; Dinheiro não tem cheiro”; “Há males que vem para bem”
Reeleição: “Grande gabador, pequeno fazedor”
Política externa: “Em boca fechada não entra mosca”; “Uns comem os figos, a outros arrebenta-lhes os beiços”
Congresso Nacional: “A melhor espiga é para o pior porco”; “A ocasião faz o ladrão”; “Quem quer os fins, quer os meios”
Justiça: “De pequenino se torce o pepino”; “Vozes de burro não chegam ao céu”
E finalmente sobre o presidente: “Macaco não enxerga o seu rabo, mas enxerga o da cutia”; “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”.
Esse exercício político proverbial nos deu sede e sorvemos grandes quantidades de água mineral gasosa, para aplacar a indigestão do cenário político brasileiro.

Jáder Marcos Paes Correto da Rocha



domingo, 1 de fevereiro de 2009

Apologia aos prazeres do fumo - 10ª sessão do Clube de Idéias

Penápolis, 25 de janeiro de 2009

Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo e Veloso.


O assunto é fumaça: Cohiba Lancero, Trinidad, Angelina, Toscano, Double Corona, Dona Flor, Jewels,...

Os prazeres do fumo! As raízes americanas, indígenas, diz Veloso.

O professor Machado afirma que a nicotina melhora a memória e o aprendizado. A nicotina, presente nas folhas de fumo, aumenta a transmissão de impulsos nervosos no hipocampo, região do cérebro responsável pela memória e aprendizado. A nicotina reforça as conexões sinápticas no hipocampo. E também, intervém o professor Teixeira, é preciso lembrar que a nicotina está ligada à excitação (estado de alerta), à atenção e também ao processamento rápido de informação.

Apesar das nossas reuniões acontecerem sob a fumaça de deliciosos charutos é necessário lembrar, diz Vladimir, que o fumo provoca doenças e a morte. Seus efeitos intoxicantes ocorrem a médio e em longo prazo, de forma cumulativa, encurtando a vida dos fumantes. O cigarro provoca câncer no pulmão, na boca, na faringe, na laringe e na bexiga, enfisema, infarto, bronquite e derrame cerebral. Mas como dizia Hannah Arendt, uma grande fumante e filosofa, “recuso-me a viver para minha saúde!”

O fumo traz risco à saúde não resta dúvida, afirma Teixeira, mas o moralismo que existe por trás das campanhas contra o fumo, o comportamento dos indivíduos sob o efeito da propaganda (antes era para fumar, agora é para rejeitar o tabaco e os fumantes), nos leva a outros receios. Logo, além do fumante, outros alvos serão criados na cruzada moralista e fascista da sociedade da beleza e saúde total. Dos belos e ricos corpos malhados, plasticados, etc. O próximo poderá ser o obeso, o feio, o geneticamente errado. É preciso cuidado quando se cerceia a liberdade dos indivíduos.


Vladimir informa que em 2001 uma associação em defesa dos direitos dos tabagistas, a Libertas, publicou o decálogo de um bom fumante:

1- Fume, mas não muito

2- Desfrute do cigarro durante toda a vida

3- Não fume até o filtro

4- O cigarro é um símbolo de amizade e descontração

5- Do cigarro, não fume somente o tabaco

6- O prazer e a descontração também têm limites

7- Proibido fumar?

8- Fumar é coisa de homens e mulheres

9- Apague bem o seu cigarro

10-O cigarro ajuda a pensar



Cruzada social contra o fumo, não é novidade, diz Machado. A Igreja combateu o tabaco desde o seu aparecimento na Europa no século XVI, porque o associava ao prazer corporal e mundano e a dissolução moral dos costumes, pois afinal era um hábito dos nativos da América. Chegou a excomungar vários fumantes. Nos EUA os grupos conservadores empreenderam campanhas para erradicar o cigarro desde o início do século 20.

Freud, que segundo alguns fumava cerca de 20 charutos por dia, o que ajudou a desenvolver o câncer no maxilar, que o levaria a morte, entendia o tabaco como um instrumento que servia de apoio para atravessar a vida. Ele observou que “a vida, tal como nós a encontramos, é muito dura e disso decorrem descontentamentos e dores. Não passamos sem paliativos, substâncias intoxicantes que nos tornam insensíveis. Elas são imprescindíveis.” (“O mal-estar da Civilização”). Por isso que o número de fumantes aumenta quando há guerras, depressões, desemprego e instabilidade social. O cigarro ajuda a humanidade a enfrentar o medo, a angústia e a incerteza. Freud reconhece o caminho do vício e acabou se entregando por completo a ele visto que descobriu a essência humana e se decepcionou.

Existe um aspecto social que gostaria de lembrar, diz Vladimir, o fumo no Brasil historicamente sempre gerou renda para os pequenos proprietários. Resolveríamos o problema de produtividade das terras fruto da reforma agrária e tornaríamos os brasileiros mais ágeis no processo de pensamento com doses homeopáticas de nicotina. Falta aos brasileiros essa ligeireza do pensamento. Exportaríamos muito fumo, mais uma opção para os agronegócios.

Mais uma vez o Vladimir está delirando, diz Figueiredo. Deve ter tragado todos os Cohiba que ganhou dos seus companheiros cubanos.

Encerrando: Compay Segundo (grande músico cubano) fumava aos 94 anos três charutos por dia. Fernando Pessoa escreve em Tabacaria: “Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.”

Jáder Marcos Paes Correto da Rocha