sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Corpo Acaso - Cecília Di Giacomo

Cecilia Di Giacomo tem cabelo vermelho, é socióloga, pinta, mas também escreve poesia e esculpe. Seus olhar feminino(ista) está sempre em cima de corpos e sensações.


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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Expectativas - Fabiane Zambon

Expectativas - (Bobabem assertativa sobre o amor III)

Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008

Cerveja, cerveja e cerveja. Dormir seria fácil. Mas puta merda, não dormi, chorei. Chorei por mim, jamais por você. Eu quis ter dó de mim. Afinal, era mais fácil me colocar carente do que falar, "então, é que eu gosto de você".

De repente me deu vontade de odiar porque eu não quero amor. A gente pode até amar para sempre, mas não todo momento. Piegas. Frase de um trailer ruim.

De repente eu quis ser mais piegas -muito mais- e botar classificado de "namorando" no Orkut. Daí, recordei que não quero amor. Que isso não é amor. Porque eu tenho medo de amar em excesso, não para sempre, mas todo momento, enquanto me lembrar de você. Portanto, antes de me esquecer, eu já te esqueci.

Você é frio demais, mas de repente senti saudade, porque com você eu me sentia aquecida. Aquele filme depois do trailer ruim, era realmente bom. Só que no próximo domingo irei sozinha ao cinema. Porque matei você de mim. Por todo momento.

Você sempre me pareceu um babaca metido à besta nas festas, mas de repente eu quis ser uma babaca metida à besta acompanhando você na festas e em qualquer outro lugar. Transar o amor. E transar com você assim como você é, não como quis que parecesse (facilitaria esquecer no dia seguinte). Transar com você assim como eu sou também. Eu quis fazer qualquer coisinha juntos, daquelas que ficam importantes só porque se está junto.

Quis conhecer seus defeitos e apresentar os meus. Me surpreender com suas qualidades e dedicar as minhas algumas vezes à você. Na tristeza e na alegria. Na saúde e doença. Amém enquanto durasse.

De repente doía chorar, mas a puta merda da dor de cabeça doía mais, então, dormi. Na segunda vez que perdi o sono, levantei e vim pra cá. Na ausência de padre, terapeuta ou "Fala que eu te escuto", um texto ordinário.

Amanheceu. Ainda chove. Vou perder a hora. Não há mais tempo para pensar em você, nem você em mim (porque já não pensava).

- Não precisa se desculpar por isso.
- Então, é que eu... Tchau.

Fabiane Zambon é atriz, libriana, designer multimídia e escreve textos zaizers no seu Loading Myself

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domingo, 25 de janeiro de 2009

Shopping Center: 9ª sessão do Clube de Idéias

Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo e Veloso.

O professor Machado fala das suas observações sobre a Meca do consumo: Shopping Center. Consumir como razão de viver.



Isso me faz lembrar, J. G. Ballard, afirma o professor Teixeira. O homem loja, o homem automóvel, metamorfoses que o capitalismo criou.

As pessoas andam feitos zumbis pelas “ruas” dos Shoppings, hipnotizadas, atraídas pelas vitrines. Desfilam as roupas que compraram no dia anterior e a regra é nunca sair dos shoppings sem uma sacola de compras.

Veloso observa que se você entra numa loja é acompanhado pelo vendedor que não deixa você a vontade para escolher o seu bem de consumo e sempre existe o olhar atento e constrangedor dos seguranças.

Outro fenômeno do mundo shopping são os pais que levam os filhos para iniciá-los ao ritual das compras. Tiram fotos das lojas e dos filhos junto aos enfeites e objetos de consumo. Acaba havendo uma fusão da criança com a mercadoria, afirma Vladimir. Quando terminam as compras não se sabe ao certo quem é a mercadoria, quem é o indivíduo.

Renato Janine Ribeiro escreveu um artigo (10/2008), lembra Machado, falando sobre o modelo do “sempre mais”. Queremos consumir porque os objetos ficam obsoletos ou porque não tem mais conserto, ou para satisfazer algo mais. A sede pelo consumo é insaciável, porque nos faz esquecer o dia a dia, nos torna potentes numa sociedade que frustra os indivíduos, ou não oferece outra forma de vida. Angustiados com o trabalho, com a família, sem saber o que fazer com ócio, passamos o tempo consumindo.

Veloso lembra que o consumo é também sublimação sexual, porque satisfazemos a libido sem qualquer risco de relacionamento, pois afinal fazemos parte de uma sociedade cada vez mais individualizada.

Como o templo shopping vai funcionar frente à crise econômica? A princípio os seguidores da seita consumo vão se endividar com os cartões até o esgotamento do crédito. Quem não tem crédito saqueia as lojas, satisfazendo a fé louca do consumo.

O próximo passo se a crise se agravar, conclui o professor Figueiredo, é o estabelecimento de um modelo político econômico cada vez mais excludente e autoritário que garanta renda suficiente a uma parcela de eleitos que entrarão no reino do consumo conquistando a sua salvação eterna. Aqueles que não conseguem consumir serão condenados ao inferno da exclusão total e eterna.

Jáder Marcos P. C. da Rocha é professor de história, epicurista e fundador do Clube de Idéias. Idéia inspirada no Clube da Luta de Chuck Palahniuk. Fugiu de São Paulo para Penápolis e não pretende mais voltar


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sábado, 24 de janeiro de 2009

Rock Brega Nerd - Gabriel Gianordoli


Gabriel é capixaba radicado em São Paulo - designer da editora Abril, ilustrador e guitarrista. Você encontra o trabalho dele todo mês na revista Superinteressante e no seu Flickr

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Clube de Idéias bate seu recorde de audiência

Ontem(21/01) nosso blog teve seu recorde de visitas em um só dia! Este mês(janeiro) já alcançamos 1029 page views. E cada vez mais pessoas mandam textos para serem publicados no blog.

Parabéns a todos os amigos - imaginários ou não - que acessam e divulgam este espaço. Continuem espalhando nosso link pela web.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Desejo - Cecilia Di Giacomo


Cecilia Di Giacomo tem cabelo vermelho, é socióloga, pinta, mas também escreve poesia e esculpe.

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Indigesto - Karol Felicio

Pobre da poesia que nasce na morte do amor
E daquela música que sorria
e agora toca e dói
Aquela foto que rasga e sangra
e aquela cama que chora e chora

Pobre do poeta que se alegra com a arte que faz
do estrago do seu próprio amor
Pobre do leitor, que admira a dor, mastiga as vísceras do poeta,
essa tristeza indigesta, engole num copo d’água,
fecha a tela, vira a página, sai, e nem olha para traz

Pobre dessa gente, por toda parte, que se ressente
A garota que dobrou a esquina, o moço que fechou a porta e afrouxou o nó da gravata,
Aquela senhora que passa, aquele menino que cala
Se quiser alegria dirija-se ao guichê ao lado
E tudo isso é matéria prima, vai dar à luz a algumas linhas, que, por hora, nem da gaveta saem
A gente produz muito lixo, anda descalço no esgoto
A gente faz amor com a peste, para nascer algo que preste
E às vezes a gente joga pérolas aos porcos
A gente escreve
E espera que alguém goste, ou que alguém deteste
Mas espera que alguém leia.

Karol Felicio é mulher, filha de Pagu, jornalirista made in Espírito Santo, e gosta que devorem suas poesias(indigestas ou não) aqui ou em seu blog. Com garfo e faca ou com as mãos.

Tem um Drummond no meio do caminho - Frico


Tudo o que escrevo, Drummond já pois na estante
Tudo o que penso, Drummdond já pensou antes
Tudo que eu crio, Drummond já descartou
Tinha uma pedra no caminho, mas o safado já chutou!

Frico já foi punk, anarquista, jornalista, baixista, poeteiro, ator, filho, namorado, culpado e inocente. Mas nunca deixou de escrever e sonhar. Tudo isso no blog Punk Brega

Fuga desesperada - Amaury Pavão Filho


Essa história é baseada em um filme real. O final e os nomes dos personagens aqui citados foram ocultados ou trocados, evitando assim, qualquer tipo de identificação ou processo judicial. Jingou Bel, assim como Papai Noel, é uma marca registrada de Natal©® Inc.

Era uma noite fria. Aquela doce mulher estava só; em casa, aguardava a chegada do marido.
“Beim Beim batem na porta. Meu Deus, é um manco horrível, o que eu faço? Oh não, socorro!!!”
Começa a gritaria e uma perseguição implacável pela casa. Uma mulher loira fugindo de um manco(campeão para-olímpico nos 100mts com barreiras). Era um desce escada, sobe escada e nada de marido chegar. De repente, um deslize fatal: a mulher tropeça no cadarço de seus tênis, rola escada abaixo e quebra o pescoço. O manco chega perto e crava-lhe um punhal de prata no coração.
Motivo? Ele tomou LSD e pensou que a mulher fosse um vampiro!
“Beim Beim batem na porta. Meu Deus, o viúvo chegou, o que eu faço? Oh não, vou embora”
O viúvo ainda tentou uma reação, mas o manquinho corria mesmo. Fugiu pela porta dos fundos. E nunca mais foi visto. Alguns dizem que ele pode ser visto em algum semáforo da av. Rebouças.
Caminhando pela casa ele vê o corpo de sua mulher estendido no chão. Chega perto, ajoelha-se ao lado do corpo, retira o punhal de prata e cai em pranto. A emoção era muita. Ele não podia acreditar que estava livre daquela mocréia.
“Beim Beim batem na porta. Meu Deus, é a polícia, o que eu faço? Xíííííí, fud**”
Um vizinho que ouvira a gritaria, chamou a polícia
O viúvo, um homem inteligente, pensou: “Put* merd*, agora minhas digitais estão neste punhal maldito”
O viúvo então é levado até a central do DHPP(Depto de homicídios e proteção à pessoa) para interrogatório, pois era a única pessoa no local do crime. Além disso, tinha o punhal de prata ao seu lado e as mão cobertas de sangue.
Chegando ao DHPP, o delegado de plantão começa um duro interrogatório enquanto limpa seus óculos. O diálogo entre os dois segue abaixo:
Qual seu nome pilantra?
Bel, Jingou Bel.
Tem papel?
Não.
Não faz mal, me passa esse pedaço de pano aí do lado. Por que matou sua esposa?
Não matei(pausa para choro). Foi um homem de uma perna só!!!!!!
E depois dessa, o delegado mijou de tanto rir e mandou o cara para o xadrez.
Durante dias ele ficou alí, sendo a sobremesa dos outros presos.
Decidiu que sairia de lá a qualquer custo e assim o fez.
Cavou um túnel para a liberdade e fugiu. Pena que a vida não é tão fácil o quanto ele pensava.
A sirene da prisão tocou!! Começou a correria!! Vários policiais correndo atrás de Jingou.
Depois de algumas horas de perseguição, Jingou se vê encurralado. De um lado os policiais babando, loucos para pegá-lo; do outro, uma cachoeira de trinta metros. “Oh dúvida cruel!!!” pensou ele.
Pulou!!!!! Durante a queda de quase 4 segundos sua vida passou pela sua cabeça como um filme. Ainda deu tempo de pensar na merd* que tinha feito.
Lá em baixo, bem lá no fundo do lago raso, bateu a cabeça e morreu!!!
Nota do autor: Alguns caracteres foram substituídos por “*” propositalmente. Logo, mesmo com “*”, o significado das palavras é o mesmo.

Amaury Pavão Filho é jornalista e programador, filho de jornalista e irmão de programador . Foi criado na bela e bucólica Penápolis, assistindo a "O Fugitivo" e outros clássicos da Sessão da Tarde, e hoje vive com a esposa em São Paulo.

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domingo, 18 de janeiro de 2009

EZLN e Zapatismo: 8ª sessão do Clube de Ideias


O professor Teixeira assistiu ao filme “O Violino” de Francisco Vargas, fazendo grandes elogios para a fotografia, enredo e principalmente por retomar o tema da luta campesina no México.

Machado lembrou que em 1º de janeiro de 1994 levantava-se em Chiapas (México) a população camponesa indígena contra o Estado mexicano. Era o EZLN (Exército zapatista de libertação Nacional). Suas reivindicações: trabalho, terra, moradia, comida, saúde, educação, autonomia, liberdade, democracia, justiça e paz.

No mesmo ano começava a funcionar o NAFTA, afirma Vladimir. Foi a resposta do povo mexicano ao neoliberalismo que desmantela as redes de proteção social. Em Chiapas os camponeses viviam um estado de servidão permanente, reagindo às propostas de modernização que não levam em conta o homem. Era a vontade do sistema financeiro que globalizava a sua ação, devorando as economias periféricas.

O Subcomandante Marcos, líder zapatista, fala em 1998 num manifesto, sobre o final da guerra fria, por ele chamada de terceira guerra, diz o professor Teixeira. E do surgimento da 4ª guerra mundial, que utiliza uma nova arma: a bomba financeira, que destrói a polis e inflige à morte, o terror e a miséria aqueles que nela habitam. As hiperbombas financeiras servem para atacar os territórios (estados nações)

O Subcomandante Marcos usou o velho discurso revolucionário (“Porque combatemos”) para criar a sua estrutura de resistência ao abandono social do povo camponês, sem ser camponês, afirma Figueiredo.

Mas deu voz para os miseráveis que reagiam através da velha violência delinqüente. Aí a coisa começa a preocupar, porque não é o marginal que se rebela cometendo delitos comuns devido a sua condição social. Mas é o grupo social oprimido amparado por uma causa, uma ideologia. Mesmo originária do velho discurso esquerdista, consegue aglutinar as massas.

Veloso recorda que em 1998, o movimento que já tinha grande repercussão internacional, inclusive porque usava a internet, obteve o apoio de José Saramago que escreveu um artigo afirmando: “quando, há seis anos, as alterações introduzidas na Constituição mexicana, em obediência à ‘revolução econômica’ neoliberal, orientada do exterior e impiedosamente aplicada pelo governo, vieram por termo à distribuição agrária e reduzir a nada a possibilidade de os camponeses sem terra disporem de uma parcela de terreno para cultivar, os indígenas acreditaram que poderiam defender os seus direitos históricos, organizando-se em sociedades civis (...) foram sucessivamente metidos na cadeia (...). Levantaram-se com algumas armas, mas levantaram-se sobretudo com força moral”

O governo mexicano reage desde o início tratando o movimento popular como uma ameaça a segurança nacional, desta forma milhares de indígenas foram expulsos de suas casas e das suas terras por serem simpatizantes ou não da EZLN.

Por onde anda o Subcomandante Marcos? Pergunta Figueiredo.

No ano passado informa Vladimir, ele esteve presente em um encontro em San Cristóbal de Las Casas, no estado de Chiapas, Sul do México, que reuniu 3.000 simpatizantes. A reunião, denominada I Festival Mundial da “Raiva Digna”, coincide com o 15.º aniversário do levantamento do EZLN. O encontro estabeleceu uma nova estratégia: é a “guerra contra o esquecimento”. Nesses últimos anos os zapatistas tem lutado para mudar o sistema político mexicano, tendo por objetivo revolucionário a criação de um novo país, o que não implica na utilização da luta armada necessariamente.

Trata-se de um belo sonho, diz Figueiredo, mas pouco pragmático, visto que o México é um país tão complexo como o Brasil. Na Revolução de 1910(México) os operários não estavam muito dispostos a dar apoio a luta campesina de Emiliano Zapata. A classe média mexicana tem outros planos e a elite é claro não partilha desse sonho. Existe também o crescimento dos narcotraficantes com gangues extremamente violentas, enfim a luta zapatista pode se esvaziar.

Por isso que foi criada a “guerra contra o esquecimento”, afirma Vladimir. Terra é sinônimo de poder, por isso a luta do EZLN é significativa por chamar a atenção para as questões políticas do México.

O prof. Figueiredo diz que o minifúndio resolveria a questão da luta pela terra, mas sobre o ponto de vista dos agronegócios o minifúndio seria eficiente para alimentar o mundo?

Veloso chama atenção para a vida, os costumes dos povos Chiapas que vivem realmente da terra, comem e só. Nós queremos consumir, modernizar, tornar mais produtivo, assim às vezes passamos com os tanques sobre aqueles que destroem nossa crença no progresso definitivo.

Teixeira retoma as observações sobre o filme de Vargas e conclui que lutar pela terra é muito mais que ser proprietário. Porque terra significa lar: língua, sons, ancestrais, a razão para existir. A terra é o morro, favela, o campo, a minha casa, o meu espaço, a minha liberdade.



Jáder Marcos Paes Correto da Rocha

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O trema ainda treme - Felipe Van Deursen

Mr. Magoo não viu a morte quando teve a ideia heroica de realizar um voo sobre a Coreia em chamas. Ao decolar de Nagoia rumo à península em guerra, ele levou consigo apenas uma cesta com peras, fonte de potássio e amigas dos intestinos. Disse à mulher, Doroteia, em prantos, mergulhada na feiura da velhice sombria que trouxera do vale do Mississipi:

- Não me magoo por deixá-la. Amo-a como a amei, lá em Colorado Bay. Mulher, apazigue suas lamúrias e me traga um par de camisas polo, porque não quero parecer malsucedido, nem malnascido, ao descer na Coreia. Minha autoestima precisa estar inabalável quando pousar naquela terra pouco multirracial.

A mulher conteve as lágrimas e caminhou na velocidade de jiboia ferida que mexera com os brios do velho 134 anos antes. Ainda tinha pernas rijas, exibidas garbosamente, sem medo de ser ridícula, sob a minissaia comprada numa loja meio século antes.

- Ande, mulher! Não existem sistemas políticos semirrígidos! Precisamos derrubar os comunistas!

Ela não apressou o passo. Entrou na casinha isolada em que viviam, ladeada pela humilde pista de decolagem do marido, e preparou a mala para seu homem. Incluiu, sem falar a ele, alguns anti-inflamatórios, creme para pele extrasseca, linguicas pré-aquecidas no micro-ondas e um autorretrato que ela havia feito quando completaram dois anos juntos.

- Para, vai. Você não precisa ir.
- Não fala assim que você me dá enjoo.

Eles veem um ao outro. Têm as rugas de uma uva-passa no coração. Mas ainda se desejam com fervor e louvor.

O velho Magoo enxaguou o rosto, deu um abraço na mulher, disse a ela para ficar tranquila e se despediu.

Foram 88 horas de viagem panceleste, que poderiam ser muito menos, mas Mr. Magoo sempre foi piloto comedido em seus voos. Quando chegou nos arredores de Seul, as tropas do norte avançando sobre o sul, pousou em segurança numa pista clandestina. Comeu seu sanduíche de linguiça com pera e caiu estatelado no chão, morto ao lado da boia semirregurgitada.

Rodeando o cadáver de Magoo, o motivo de sua morte instantânea, a visão sobre-humana que tivera no instante final, o suprassumo da demência ultrainterina. Pinguins sem trema e virgens sem hífen. Ou melhor, sem hímen.

Felipe Van Deursen é uma das poucas pessoas que já sabe escrever direitinho seguindo as novas regras da reforma da língua portuguesa. O rapaz é jornalista, bon vivant e sacerdote da filosofia Ulça! Faz piada no SuceÇo e fala sério no seu blog, além de escrever para a revista VIP e fazer pós em Jornalismo Literário.

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Minha inspiração fugiu com outro - Frico

“Aonde vais inspiração?”
“Vou passear em outro coração”
E foi assim num - nem tão- belo dia
Que fiquei sem minha amada poesia

Já não via beleza nas curvas de mulher
No anil do céu ou brigadeiro de colher
Sorvete de creme parecia ter sal
Não via magia nem no Natal.

A minha musa cretina me mandava cartões.
Rodava nos braços de best-sellers e charlatões.
Pariu uma ninhada de alto-ajuda e bruxaria.
Bebia canções na viola da boemia.

Foi cúmplice de um gago em serenata pra namoradinha
Ensinou a moça tímida a ficar mais saidinha
No sermão do frade, ninguém mais dormia.
Na aula de física o gorducho só ria.

Humilhado e triste só esperava o pior.
Mas num sonho ei-la: feliz acorde maior
Despertei em seus braços, louco pra contar
Em forma de versos voltei a amar.

Frico já foi punk, anarquista, jornalista, baixista, poeteiro, ator, filho, namorado, culpado e inocente. Mas nunca deixou de escrever e sonhar. Tudo isso no blog Punk Brega

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ano 2012 - Sabrina Barrios

A arte é da designer de Santa Maria(RS) Sabrina Barrios. Sabrina mora em São Paulo, trabalha na Editora Globo, e já expôs seus trabalhos até em Nova York, chique né?

Além de Beatles de Rollings Stones, você encontra mais trabalhos dessa colarada no Flickr da moça.

=> Mande seus trabalhos pra gente. O endereço é clube.ideias@gmail.com

domingo, 11 de janeiro de 2009

"O Leopardo" de Luchino Visconti: 7ª sessão do Clube de Idéias


Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo e Veloso.

Embriagados com o novo ano assistimos “O Leopardo” de Visconti, fumando “Dona Flor”, para fortalecer a nossa crença que as mudanças tardam, mas chegam. Carregando espectros , lembra Figueiredo, espectros que são o fardo histórico que acompanha os homens.

No filme é possível observar a decadência da nobreza italiana frente ao processo de modernização burguesa. A cena em que aparece a família de Don Fabrizio chegando a uma localidade do interior, cobertos de poeira quando assistiam a uma missa, parecem fantasmas da nobreza que não percebe que já morreu que é o seu fim.

O professor Veloso lembra à adesão ao movimento de unificação, de Tancredi, sobrinho do príncipe Fabrizio, rompendo com a tradição da nobreza, dos reinos e principados fragmentados, chegando a casar com uma burguesa. Mas a adesão de Tancredi não se explica só por isso, afirma Vladimir.

Tancredi não vê saída para a nobreza. É preciso participar da luta pela unificação para continuar controlando as massas. A nobreza deve mudar, para continuar existir, dividindo seu poder com a burguesia.

O padre conselheiro de Don Fabrizio é contra a unificação. É claro. Alerta sobre ambição do povo que pode tomar as terras da nobreza e as do Vaticano.

O professor Machado observa que Don Fabrizio olha para os acontecimentos como fatalidade histórica e ironiza a modernização: “será que as estradas vão melhorar com a nova ordem política”. Como grande parte da nobreza siciliana, Don Fabrizio vive de acordo com a rigorosa moral católica, mas cede aos desejos, afinal diz ele, “sou um homem vigoroso”, como não ceder à carne (aventuras extraconjugais), quando teve sete filhos sem nunca ter visto nem o umbigo da nobre e cristã esposa.

Assim, iniciamos o ano sem nenhuma empolgação, expectativas, apreciando o nosso estado de espectadores da realidade, porque com a exceção de Vladimir, cansamos da práxis.

Trailer de "O Leopardo", de Luchino Visconti


Jáder Marcos Paes Correto da Rocha

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

RAP

RAP
Eu não tinha estudo então fiz um rap.
Para todos os bandos de moleque.
Que como eu andaram descalços
Para os condenados presos no cadafalso.

Pra todo mundo que deveria não ser, mas foi.
Todo um mais um que não é dois
Toda rima pobre que emociona
Toda falta de lirismo que questiona.
Um dia eu também estive na fila esperando.
Um exame, um documento, uma noite sonhando.
Usando aquela roupa maior dada como esmola.
Assistia aos meninos do bairro cheirando cola.
Para todo mundo que deveria estar preso e é poeta.
Todo louco que virou um pouco profeta.
Todo analfabeto que ensina
Todo puta que é menina.
A beleza do mundo é difícil de perceber.
Morrer não é difícil, é bem mais fácil que viver.
A poesia da vida é assim real.
Como esse poema fraco e sem final.

Frico já foi punk, anarquista, jornalista, baixista, poeteiro, ator, filho, namorado, culpado e inocente. Mas nunca deixou de escrever e sonhar. Tudo isso no blog Punk Brega

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Pedaços - Cecília Di Giacomo


Cecilia Di Giacomo é socióloga, pinta, mas também escreve poesia e esculpe.

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Página Cem - Ana Alice Gallo

Cansei de sangrar na página cem.

Sem perspectiva de cruz ou amém.

Sem trombeta que expie pecados

Ou lance pedras sobre fatos mal fadados.

Cansei de sangrar no porém

Sem saber onde a vírgula termina

Até onde o ponto final extermina

O aposto do qual me mantenho refém.

Ana Alice Gallo nasceu em Ribeirão Preto, vive em São Paulo e, além de escrever poeminhas bacanas, a menina é baterista e jornalista. Ela toca nas bandas Milhouse e Liga das Senhoras Católicas. Você pode ler mais textos dela no brog Credencial Tosca.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Um quadro - Cecília Di Giacomo


"Como o gato de Alice
Só metade existe
Um enigma triste?"

Cecilia Di Giacomo é socióloga, pinta, mas também escreve poesia e esculpe.

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domingo, 4 de janeiro de 2009

Davi vs Golias: 6ª sessão do Clube de Idéias

Professores associados: Jáder, Machado, Vladimir, Teixeira, Figueiredo e Veloso.

Assistimos a luta entre Holyfield e Valuev e o professor Figueiredo logo nos fez lembrar sobre o próximo ano: o conflito entre David e Golias. Sim, teremos que ser heróis como David para enfrentar o gigantesco desemprego, a inflação, o conservadorismo, o autoritarismo, etc.

Davi e Golias na representação de Caravaggio

Torcemos por Holyfield. Menos o prof. Vladimir, por achar que o boxeador norte-americano, apesar do seu tamanho em relação ao russo é um ícone do capitalismo. Gasta muito dinheiro, mora numa mansão em Atlanta com 17 banheiros, com a maior piscina privada dos Estados Unidos e fugiu do adversário.

Independente disso torcemos para Holyfield porque a luta nos deu a sensação do conflito dos fracos contra os opressores . A possibilidade de reagir às dificuldades, aos obstáculos, o sonho do herói.

Os heróis existem ou podem existir, diz Veloso. São necessários para nos dar esperança, ou servir de exemplo para as lutas sociais.

O professor Machado lembra o mito religioso, quando Davi vence em combate Golias na luta contra os filisteus. Golias desafiou os soldados do exército de Israel para um combate individual, que ninguém aceitou, exceto o jovem David, que armado de uma funda matou o gigante com uma pedrada na testa e levou a cabeça de Golias para o rei Saul. Depois disso, a sua ascensão e popularidade foram inevitáveis. Tornou-se chefe do exército de Israel e favorito do rei (até tornou-se seu genro). Mas isso não agrada o rei, que passa a persegui-lo, obrigando Davi a fugir. Só após a morte do rei e de seu filho, David consegue tornar-se rei.

Davi X Golias, está presente em vários contextos sociais, onde nem sempre Davi leva a melhor.

Por outro lado, lutas populares podem ser vitoriosas quando existe determinação, ou quando a opressão chega ao limite. Teixeira lembra a luta dos negros na África do Sul nos anos 70 contra o desenvolvimento em separado (apartheid). Os estudantes se levantando contra a educação banto, que os instruía a falar afrikaner para obedecer a seus patrões brancos, e ainda limitava a sua formação . Para que aprender matemática se vai atuar como empregado dos brancos? De repente muitos David se rebelam. Não querem aprender afrikaner e começam os protestos. Golias age e mata vários estudantes. Parecia que o desfecho seria como a luta de Holyfield e David seria derrotado. Mas ocorreu a partir daí um crescimento das manifestações, o mundo se sensibilizou e a África do Sul sofre boicotes econômicos. Os brancos tiveram que ceder.

E a inversão ou ironia histórica da luta entre palestinos e judeus? Indaga o professor Vladimir. Os judeus representados por David no passado, que lutaram contra Golias, isto é contra os filisteus, era um povo que buscava a sua unidade política e estava em expansão procurando dominar a palestina ou a terra prometida, sob a perspectiva da justificativa religiosa. E a mesma religião criou o mito de David para justificar a luta do povo eleito, justo, etc. Na verdade os hebreus como qualquer povo da antiguidade entra em choque com outros povos em busca de pastagens, fontes de água (Rio Jordão), etc.

Hoje a luta simbólica de David, é a luta palestina, que enfrenta o moderno exército de Golias (Israel) com as velhas fundas ou mais sofisticadamente com os mísseis katyuschas. Até agora Golias tem levado a melhor, como na maioria das lutas sociais e populares que sonham com surgimento de um herói.

Com exceção do professor Veloso e do Teixeira, não acreditamos em heróis nem em messias, resolvemos seguir uma máxima epicurista para o final do ano: “desviar das fatalidades”

Jáder Marcos Paes Correto da Rocha

Deus falou pra mim - Frico

Deus estava no canto da sala
Fumando um cigarro e bebendo vinho.
Discutindo Casa Grande e Senzala
Reclamando que passava o tempo sozinho.

Deus estava triste de viver a eternidade só,
Estava com saudades de quanto tinha filhos na terra.
Não queria saber de milagres, queria beber café em pó
Queria ser como o homem que menos acerta do que erra.

Deus disse que estava se fudendo pra nossa situação.
Afinal, criou o livre arbítrio pro homem se virar
Que já tinha perdido o filho temporão
E faria outro dilúvio quando começasse a chorar.

Deus coçando a barba espessa e branca
E reclamando do peso do mundo nas costas
Chega perto do meu ouvido e lança:
Vou revelar o segredo dessa josta.

Esse negócio de sentido da vida é um lance meio perverso
Tava entediado e criei a maior piada do universo
É eu sei tudo isso é uma bosta
Criei a dúvida, mas não tinha a resposta!

Frico é jornalista, baixista das bandas Milhouse e Cuecas Rosas, poeteiro, diretor de vídeos toscos e escreve no blog Punk Brega